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Moraes usa avião da FAB para ir a jogo do Corinthians após tornar Bolsonaro réu

Ministro viajou sozinho com justificativa de “segurança” no dia anterior à final onde foi visto entre 48 mil torcedores

Gustavo Moreno/ STF
Gustavo Moreno/ STF

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, utilizou uma aeronave oficial da Força Aérea Brasileira para se deslocar de Brasília a São Paulo na quarta-feira (26), véspera de sua participação na final do Campeonato Paulista entre Corinthians e Palmeiras. Segundo revelou a Folha de S. Paulo, o voo foi classificado como “de segurança”, apesar de transportar exclusivamente o magistrado.

A viagem ocorreu precisamente no mesmo dia em que Moraes participou da histórica sessão da Primeira Turma do STF que transformou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados em réus por supostas tentativas de golpe de Estado. Na quinta-feira (27), o ministro optou por participar remotamente das sessões do Supremo, conectando-se por videoconferência diretamente da capital paulista.

À noite, contrariando a alegada necessidade de segurança que justificou o uso do transporte oficial, Moraes foi flagrado na Neo Química Arena, misturando-se a uma multidão de 48 mil torcedores. Imagens amplamente compartilhadas nas redes sociais mostram o ministro ostentando a camisa do Corinthians – clube pelo qual declara publicamente sua torcida – ao lado da esposa e do também ministro Flávio Dino.

A disparidade entre a justificativa de segurança para o uso da aeronave e a posterior exposição pública num estádio lotado gerou contundentes críticas de especialistas em transparência. “Se foi a um estádio com 50 mil pessoas, poderia tranquilamente ter usado um avião comercial”, apontou Marina Atoji, representante da Transparência Brasil, questionando o uso privilegiado de recursos públicos.

O episódio ocorre em um cenário de crescente opacidade sobre o uso de aeronaves militares por membros da Corte Suprema. Desde abril de 2024, por decisão do Tribunal de Contas da União, informações sobre essas viagens – incluindo a identidade dos passageiros – foram colocadas sob sigilo, dificultando o controle social sobre gastos públicos.

Bruno Morassutti, advogado da organização Fiquem Sabendo, foi categórico ao afirmar que o incidente compromete a credibilidade do magistrado. “O ideal seria que a conduta dos ministros refletisse o uso adequado de recursos públicos”, declarou, indicando o desgaste de imagem provocado pela situação.

Procurados pela imprensa, tanto o STF quanto a FAB e o Ministério da Defesa optaram pelo silêncio, não emitindo qualquer posicionamento sobre o uso questionável da aeronave. O próprio ministro Moraes também não se manifestou sobre a polêmica, mesmo diante da repercussão negativa do caso.

Defensores do ministro alegam que o deslocamento ocorreu em um contexto de tensão elevada, especialmente após a decisão contra Bolsonaro e em meio a supostas ameaças contra magistrados. A Polícia Federal já havia identificado ações de monitoramento da localização de Moraes por aliados do ex-presidente, o que teoricamente justificaria medidas de segurança extraordinárias – embora estas pareçam incompatíveis com a posterior exposição pública em um evento esportivo massivo.