Galípolo revela volume alarmante de apostas mesmo após regulamentação

O mercado de apostas online no Brasil continua em crescimento explosivo mesmo após a regulamentação implementada em janeiro. Segundo informações reveladas pelo secretário-executivo do Banco Central (BC), Rogério Lucca, durante depoimento à CPI das Bets no Senado nesta terça-feira (8), os brasileiros estão gastando entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões mensais em sites de apostas eletrônicas.
Esses valores representam um aumento significativo em relação às estimativas anteriores. “A gente chegou à época [no ano passado] a um valor médio mensal de R$ 20 bilhões de fluxo para esses sites. Durante este ano, de janeiro a março, o valor que a gente acompanha para efeito de atividade gira em torno de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões por mês, ratificando o que a gente tinha estimado no fim do ano passado”, afirmou Lucca.
O monitoramento tornou-se mais preciso após as bets legalizadas serem obrigadas a registrar contas bancárias com Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) específica. O BC esclareceu que esses dados são apenas para consumo interno e não serão divulgados periodicamente.
Quanto ao retorno aos apostadores, existem divergências entre os órgãos governamentais. Segundo Gabriel Galípolo, presidente do BC, a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), vinculada ao Ministério da Fazenda, registra um retorno de 93% a 94% em prêmios. Contudo, um relatório preliminar do BC havia calculado que apenas 85% do valor apostado retorna aos jogadores.
Durante a audiência, Galípolo fez questão de delimitar as competências do Banco Central, esclarecendo que a instituição não tem poder de fiscalização direta sobre as bets. “A Secretaria de Prêmios de Apostas é quem define a bet que está autorizada ou não. O Banco Central, uma vez informado pela SPA, vai dizer para a instituição financeira: ‘Você tem aí empresas para observar nos seus procedimentos e, a partir de agora, não autorizar mais’. Não é o Banco Central que interrompe uma transação. A partir daí, é a própria instituição financeira que interrompe”, explicou.
O presidente do BC também frustrou parlamentares ao afirmar que, por razões legais relacionadas à proteção de dados pessoais e sigilo bancário, o órgão não pode bloquear o Pix de beneficiários do Bolsa Família que apostam em bets, nem as chaves Pix das empresas que recebem esses recursos do programa social.
Um dado alarmante revelado por Galípolo foi que apostadores online apresentam risco de crédito significativamente maior que não apostadores, o que já levou instituições financeiras a elevarem as taxas de juros para esse perfil de cliente.
A CPI das Bets, instalada em novembro no Senado sob presidência do senador Dr. Hiran (PP-RR) e relatoria da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), busca investigar o impacto das apostas eletrônicas no orçamento familiar brasileiro, suas consequências para o sistema financeiro e possíveis ligações com organizações criminosas.