Governadores buscam apoio bolsonarista com promessa de perdão ao ex-presidente e condenados do 8 de Janeiro.

Pré-candidatos que se posicionam no espectro da direita e almejam disputar a Presidência da República em 2026 têm adotado uma estratégia comum para atrair e consolidar o apoio da base leal ao ex-presidente Jair Bolsonaro: a promessa pública de conceder um indulto ou anistia a ele e aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Essa sinalização é vista como um dos requisitos para obter o endosso do próprio Bolsonaro, considerado crucial para a viabilidade eleitoral no próximo pleito.
Governadores como Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, já se manifestaram abertamente favoráveis a essa medida. Eles aguardam um posicionamento de Bolsonaro sobre quem ele deve apoiar na corrida presidencial.
Caiado defende pacificação e anistia ampla
Ronaldo Caiado foi um dos primeiros a defender a anistia ao ex-presidente, pauta que ele sustenta desde fevereiro de 2024. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, antes de manifestações convocadas por Bolsonaro, o governador goiano declarou que a anistia seria um caminho para “pacificar o Brasil”, buscando um “clima político de convivência pacífica”.
Em maio deste ano, Caiado reiterou sua posição à Globonews, estendendo a defesa do perdão não apenas a Bolsonaro, mas também aos indivíduos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelos eventos que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília.
“Ronaldo Caiado, presidente da República: vou anistiar e começar uma nova história no Brasil”, afirmou o governador de Goiás, reforçando seu compromisso: “Caiado vai, chegando à Presidência da República e, no meu momento, vou resolver esse assunto, anistiar essa situação toda. E vamos discutir o problema de crescimento e de pacificação do País”.
Apoio de Bolsonaro condicionado ao compromisso com indulto
A concessão de um indulto ao ex-presidente é tratada nos bastidores como uma condição para que a família Bolsonaro declare apoio a um nome da direita para o Palácio do Planalto em 2026. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) confirmou essa exigência em entrevista à Folha de S. Paulo.
“Vai ter que ser alguém na Presidência que tenha o comprometimento, não sei de que forma, de que isso (o indulto) seja cumprido”, declarou o senador.
Tarcísio questiona inelegibilidade e apoia anistia do 8 de Janeiro
Um dos nomes mais cotados para receber o apoio de Bolsonaro é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi ministro em sua gestão. Há sinais de que o ex-presidente estaria disposto a apoiá-lo em uma chapa que poderia ter a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) como vice. Essa informação circula entre membros do governo paulista e parlamentares de direita, tendo sido confirmada por interlocutores de Tarcísio ao jornal Estadão.
Uma pesquisa Genial/Quaest recente mostrou Tarcísio e Michelle empatados tecnicamente com o atual presidente Lula em um eventual segundo turno, enquanto Lula teria vantagem sobre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Em março, Tarcísio questionou publicamente a decisão da Justiça que tornou Bolsonaro inelegível: “Qual razão para afastar Jair Messias Bolsonaro das urnas? É medo de perder eleição, porque sabem que vão perder?”.
O governador paulista também se manifestou favorável à anistia para presos e condenados pelo 8 de Janeiro. “A gente está aqui para pedir, lutar e mostrar que todos estamos juntos para exigir anistia daqueles inocentes que receberam penas desarrazoadas (…) Quero ver quem vai ter coragem de se opor (ao projeto da anistia)”, disse Tarcísio.
Zema busca espaço e defende indulto comparando casos
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, confirmou no início de junho sua intenção de se apresentar como pré-candidato da direita à Presidência. Questionado sobre sua posição em relação a pesquisas que o colocam em desvantagem, Zema afirmou estar satisfeito com o cenário, pois ele indica que a direita, com múltiplos postulantes, estaria mais preparada para afastar a esquerda do poder.
Sobre a possibilidade de concorrer sem o apoio de Bolsonaro, Zema disse que seu objetivo é “ajudar o Brasil” e que participará de qualquer iniciativa para ver o PT fora do governo.
Um dos movimentos para conquistar o apoio do ex-presidente foi sua promessa pública de conceder indulto a Bolsonaro, caso eleito. “Sou totalmente favorável, totalmente favorável. Nós já demos indulto no passado e anistia para quem assassinou, sequestrou”, declarou. Zema acrescentou que considera “muito errado” condenar alguém por um ato como pichar uma estátua com batom, em referência à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou a estátua A Justiça, em frente ao STF, durante os atos de 8 de janeiro.
A postura desses pré-candidatos evidencia a centralidade da pauta do indulto e da anistia para a articulação da direita visando as eleições de 2026, buscando capitalizar o apoio da base bolsonarista e do próprio ex-presidente em um cenário de disputa acirrada pelo eleitorado conservador.