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Bolsonaro brinca com convite a Moraes para vice e declara que será “próximo presidente” após depoimento no STF

Ex-presidente compareceu ao interrogatório sobre suposta trama golpista e disse sair “tranquilo e confiante”; Moraes ironiza situação de Braga Netto

Jair Bolsonaro - Foto: Fellipe Sampaio/STF
Jair Bolsonaro – Foto: Fellipe Sampaio/STF

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) protagonizou momentos inusitados durante seu depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), no âmbito da ação penal que investiga suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Em clima aparentemente descontraído, Bolsonaro chegou a brincar com o ministro Alexandre de Moraes, convidando-o para ser seu vice-presidente em 2026.

Durante o interrogatório na sala de sessões da Primeira Turma do STF, o ex-presidente pediu permissão para fazer uma “brincadeira” ao ministro relator do caso.

“Posso fazer uma brincadeira?”, perguntou Bolsonaro. Moraes respondeu que ele deveria “perguntar aos advogados antes”. Sem se intimidar, o ex-presidente prosseguiu: “Eu gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 2026”, provocando risadas na audiência.

O ministro Alexandre de Moraes respondeu prontamente: “Eu declino novamente”, demonstrando que já havia sido feito convite similar anteriormente.

Pedido de desculpas por acusações anteriores

Em outro momento do depoimento, Bolsonaro adotou tom mais sério e se desculpou com Moraes por declarações feitas durante reunião ministerial de 5 de julho de 2022. Na ocasião, o então presidente havia sugerido que membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), incluindo Moraes, teriam recebido entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões para supostamente fraudar as eleições.

“Era uma retórica. Se fossem outros três ocupantes [do TSE] eu teria a mesma conduta. Me desculpe. Não tinha intenção”, justificou-se o ex-presidente.

Bolsonaro também admitiu que era “bastante desagradável” estar diante do ministro naquelas circunstâncias, reconhecendo o constrangimento da situação judicial em que se encontra.

Declaração de confiança após depoimento

Após o interrogatório, Bolsonaro utilizou suas redes sociais para manifestar otimismo quanto ao resultado do processo. Na plataforma X (antigo Twitter), o ex-presidente declarou que saiu “tranquilo e mais confiante de que serei o próximo Presidente da República”.

“Compareci ao STF de cabeça erguida, com a consciência tranquila e o espírito sereno de quem sabe que é inocente e que jamais traiu os valores da Pátria”, escreveu Bolsonaro em sua conta oficial.

O ex-presidente enfatizou que respondeu a todas as perguntas formuladas durante o interrogatório: “Não invoquei silêncio. Não busquei subterfúgios. Respondi a cada pergunta com transparência e convicção. Quem tem a verdade como companheira não teme ser questionado – e jamais se curva diante da injustiça.”

Defesa do legado governamental

Na mesma publicação, Bolsonaro aproveitou para destacar realizações de seu governo, mencionando o combate à corrupção, redução de impostos, investimentos em infraestrutura e defesa das liberdades individuais. Segundo ele, todas as ações foram realizadas “com base na Constituição” e “respeitando a vontade soberana do povo brasileiro”.

O ex-presidente encerrou sua manifestação com citação bíblica do Evangelho de João: “A verdade não teme o tempo, nem os tribunais. Ela é como o sol: pode ser ofuscada por nuvens, mas jamais apagada. Como diz a Escritura Sagrada, em João 8:32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.'”

Situação de inelegibilidade

Vale lembrar que Bolsonaro encontra-se inelegível até 2030, após condenação pelo Tribunal Superior Eleitoral por promover reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada, em julho de 2022, para questionar a segurança do sistema eletrônico de votação brasileiro.

Braga Netto também depõe

Paralelamente ao depoimento de Bolsonaro, o ex-ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, também prestou depoimento no mesmo processo, porém por videoconferência, já que se encontra preso no Rio de Janeiro desde dezembro de 2024.

Durante o interrogatório do militar, ocorreu outro momento de tensão quando Moraes perguntou se Braga Netto já havia sido preso anteriormente. “Eu estou preso, presidente”, respondeu o general. Moraes prosseguiu: “Fora essa vez”, ao que o general indicou que não. O ministro então ironizou: “Eu sei que o senhor está preso, eu que decretei.”

Contexto da investigação

Os depoimentos fazem parte da ação penal do chamado “núcleo 1” das investigações da Polícia Federal sobre supostos atos de tentativa de ruptura institucional após as eleições presidenciais de 2022. O processo busca apurar se houve articulação para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante toda a audiência, conforme relatado pela imprensa presente, não houve exaltações ou confrontos diretos entre as partes, mantendo-se um clima de formalidade judicial, apesar dos momentos de tensão e descontração pontuais.

A investigação representa um dos casos mais sensíveis do sistema judiciário brasileiro, envolvendo ex-autoridades de alto escalão e questionamentos sobre a estabilidade democrática do país no período pós-eleitoral de 2022.