
O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) protocolou um projeto de lei que prevê a criação de “espaços de uso seguro de substâncias psicoativas” no estado de São Paulo. Na prática, a proposta cria locais onde usuários de drogas, incluindo crack, poderiam consumir entorpecentes com a supervisão de profissionais de saúde, sob a justificativa de que isso reduziria os danos e contribuiria para a reabilitação dessas pessoas. O projeto, que se inspira em modelos adotados na Europa, teria um custo anual de R$ 1,2 milhão bancado pelos cofres públicos.
A proposta causou indignação imediata, especialmente por seu impacto direto na Cracolândia, epicentro do tráfico e do consumo de drogas na capital paulista. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) criticou duramente a iniciativa, classificando-a como um absurdo e uma afronta à luta contra as drogas. Em um vídeo publicado em suas redes sociais, ele deixou claro que não permitirá esse tipo de política na cidade. “O cara [Suplicy], um deputado eleito, querer que tenha espaço para as pessoas ficarem usando drogas? Mas pessoal não tá batendo bem da cabeça, não é possível. Não vou deixar isso acontecer aqui, não. Essas pessoas precisam entender que a gente precisa trabalhar para que as pessoas não usem drogas, e não fazer essa apologia, esse apoio ao uso de drogas”, afirmou Nunes.
Na justificativa do projeto, Suplicy argumenta que ambientes supervisionados ajudariam a “desmontar” a lógica da Cracolândia, impedindo que o crime organizado continue explorando a vulnerabilidade dos usuários. “Salas de uso assistido forneceriam o que os usuários procuram em locais como a Cracolândia, desmontando, portanto, o seu propósito de existir, bem como o sistema montado pelo crime organizado para a venda de drogas nesses locais”, diz o texto do PL.
O parlamentar ainda destaca que experiências semelhantes foram implementadas em países como Suíça, Holanda e Alemanha, resultando, segundo ele, na redução de mortes por overdose e na diminuição do risco de contaminação por doenças infecciosas. Além disso, ele defende que os espaços ajudariam a reduzir a perturbação da ordem pública causada pelo consumo de drogas em locais abertos.
Apesar das justificativas apresentadas, a proposta gerou revolta em diversos setores da sociedade. Para críticos, o projeto de Suplicy representa um incentivo institucionalizado ao consumo de drogas e uma violação dos princípios de combate ao tráfico e à dependência química. A destinação de recursos públicos para financiar locais de uso de crack e outras drogas é vista como um desperdício e um desrespeito aos cidadãos que trabalham e pagam impostos. A polêmica segue e promete gerar mais embates dentro da Assembleia Legislativa de São Paulo.