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PCC investiu R$ 8 bilhões para controlar eleições em 42 municípios, revela relatório secreto

Investigação da PF expõe como a maior facção criminosa do Brasil usa dinheiro do tráfico para capturar prefeituras e expandir seu poder

Foto: Polícia Federal
Foto: Polícia Federal

Um alarmante relatório sigiloso produzido pela Polícia Federal e promotores de justiça revelou como o Primeiro Comando da Capital (PCC) tem minado a democracia brasileira em sua base. Ao menos 42 cidades tiveram seus processos eleitorais municipais comprometidos em 2024 por facções criminosas que, segundo o documento obtido pelo Fantástico da TV Globo, manipularam candidaturas e financiaram campanhas com dinheiro do tráfico, priorizando municípios do interior onde o controle é facilitado pela ausência do Estado.

A face mais brutal dessa interferência criminosa ficou evidenciada em João Dias, pequeno município de apenas 2 mil habitantes no Rio Grande do Norte, onde o então prefeito Francisco Damião de Oliveira, conhecido como Marcelo, foi brutalmente assassinado em agosto de 2024 durante sua campanha à reeleição. O crime não poupou nem seu pai, ambos eliminados em uma disputa pelo poder municipal orquestrada por traficantes vinculados ao PCC.

As investigações desvendaram uma trama complexa iniciada ainda em 2020, quando Marcelo foi eleito prefeito pelo Progressistas tendo como vice-prefeita Damária Jácome – irmã de quatro traficantes investigados que controlam o narcotráfico no Nordeste. Os irmãos Deusamor, Leidjan, José Romeu e Samuel Jácome são apontados pelas autoridades como lideranças regionais do tráfico com movimentação financeira estimada em R$ 30 milhões.

O pacto criminoso, segundo os investigadores, previa que Marcelo renunciaria ao cargo após a eleição, abrindo caminho para que Damária assumisse a prefeitura. A promessa foi cumprida em junho de 2021, apenas seis meses após a posse, quando Marcelo deixou o cargo e a vice assumiu o controle formal do município. Transcrições de discursos e depoimentos obtidos pela polícia evidenciam que, na prática, os irmãos Jácome já comandavam a administração municipal antes mesmo da renúncia oficial. Em declarações públicas, Damária chegou a admitir que o projeto de governo havia sido inteiramente idealizado por seus irmãos.

A situação em João Dias representa apenas a ponta do iceberg de um problema nacional. O documento aponta que, somente em São Paulo, o PCC destinou a impressionante cifra de R$ 8 bilhões para apoiar candidaturas municipais estratégicas. A tática das organizações criminosas segue um padrão sistemático: após garantir a eleição de seus aliados, buscam nomear pessoas de confiança em secretarias municipais estratégicas, blindar suas atividades ilegais e expandir seu controle territorial.

Esta infiltração do crime organizado no poder público municipal representa uma das mais graves ameaças à democracia brasileira, transformando instituições legítimas em instrumentos a serviço do narcotráfico e evidenciando a necessidade urgente de medidas para proteger a integridade do sistema eleitoral, especialmente nas regiões mais vulneráveis do país.