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Venezuelanos vão às urnas em meio a artimanhas de Maduro

Oposição surge como grande favorita contra o regime autoritário

Nicolás Maduro Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez
Nicolás Maduro Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez

Neste domingo (28), os venezuelanos participarão da eleição mais crucial dos últimos 25 anos. Pela primeira vez, a oposição lidera nas intenções de voto, mas há incertezas sobre o respeito de Nicolás Maduro aos resultados. Pesquisas indicam a vitória de Edmundo González Urrutia, apoiado por María Corina Machado, que foi impedida de concorrer.

Urrutia, da Plataforma Unitária Democrática (PUD), é projetado para receber mais de 50% dos votos, enquanto Maduro tem cerca de 20%, em linha com sua baixa aprovação. Institutos aliados ao chavismo, no entanto, sugerem resultados opostos.

Durante o ano, o regime impôs novas regras e modificou outras para dificultar a participação da oposição. O exemplo mais notável foi a inabilitação de Corina Machado, que venceu as primárias com mais de 90% dos votos.

– Existe uma estrutura jurídica e política que será manipulada para impedir que as pessoas participem das eleições, seja mudando as seções eleitorais, impedindo as pessoas de votar, manipulando observadores eleitorais. Tudo isso é familiar ao chavismo. Mas, desta vez, é uma luta existencial para eles – afirma María Isabel Puerta Riera, cientista política do Valencia College, da Flórida.

União

A oposição está unida pela primeira vez em 11 anos. O momento mais próximo de vencer o chavismo foi em 2013, logo após a morte de Hugo Chávez, quando Maduro venceu Henrique Capriles por 50% a 49%.

Em 2018, a estratégia de boicote da oposição resultou na reeleição de Maduro por ampla margem. Agora, os opositores estão unidos em torno de qualquer candidatura capaz de derrotar o chavismo, com foco em garantir alta participação na reta final.

Restrições

Levantamento das organizações Alerta Venezuela, Espacio Público e Voto Joven revela que cerca de 25% dos eleitores foram excluídos do processo devido a mudanças nas regras, afetando milhões de venezuelanos no exterior.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que mais de 21 milhões de pessoas estão habilitadas para votar, mas as organizações indicam que 5 milhões ficaram de fora.

– Não pode haver eleições autênticas ou livres sem um quarto da população – dizem as entidades.

Há também denúncias de mudanças arbitrárias nos locais de votação, sem comunicação adequada, ou movidos para locais distantes. Outro obstáculo é a inscrição de mesários.

– A seleção dos membros das seções eleitorais não foi informada adequadamente. Na Venezuela, os cidadãos são selecionados aleatoriamente para compor as mesas. Mas muitos não foram informados e não comparecerão – afirmou o diretor do Observatório Eleitoral Venezuelano, Carlos Medina.

A ausência de mesários pode impedir a realização das eleições em determinadas seções, prejudicando zonas favoráveis à oposição.

– Não dá para excluir irregularidades. O processo em alguns lugares talvez seja mais lento do que o normal. É exatamente isso que o chavismo quer fazer, que poucas pessoas votem, que os mesários não estejam presentes, além de manipular os resultados das urnas – disse o cientista político Xavier Rodríguez-Franco.

Acordo

As eleições foram acordadas entre Maduro e a oposição nos Acordos de Barbados, com mediação do Brasil. Em troca de um processo justo, o chavismo receberia o alívio de algumas sanções dos EUA e da União Europeia.

O acordo começou a ruir em janeiro, quando o Supremo Tribunal de Justiça confirmou a inabilitação de Corina Machado, proibida de ocupar cargos públicos por 15 anos. A decisão resultou na retomada das sanções.

Durante meses, a oposição discutiu quem deveria substituir Machado, já que ninguém atraía tanto apelo. Considerou-se desafiar a ordem judicial, mas o risco de prejudicar a oposição era grande, exatamente o que Maduro queria.

Na reta final, a oposição concordou com Corina Yoris, professora e filósofa homônima de María Corina, como candidata ideal. No entanto, Yoris foi barrada no último dia de inscrição sem justificativa. O único nome aceito pelo CNE foi o de González Urrutia.

Diplomata aposentado, ele é visto como negociador habilidoso, capaz de conduzir, em caso de vitória, uma transição de governo. Com o apoio de María Corina, o embaixador percorreu o país em campanha.

Outra tática do chavismo para evitar a derrota foi mudar regras no meio do processo. Organizações criticaram o CNE por exigir documentos adicionais para novos eleitores e dificultar o registro dos quase 8 milhões de venezuelanos no exterior.

Artimanhas

O regime dificultou o credenciamento de testemunhas eleitorais, essenciais para garantir a integridade do processo. O CNE impôs barreiras aos 90 mil voluntários da oposição.

– A estratégia é usar o CNE para impedir a votação maciça do povo venezuelano, para tentar ganhar as eleições de forma fraudulenta. Mesmo que os votos no final do processo sejam contados corretamente, a eleição acontece em um contexto de fraude – afirma o opositor e ex-presidente do CNE, Andrés Caleca.