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Santa Casa enfrenta colapso e médicos denunciam risco de morte de pacientes

Foto: Midiamax/Santa Casa
Foto: Midiamax/Santa Casa

Sem insumos para cirurgias ortopédicas, médicos da Santa Casa de Campo Grande recorreram à polícia para formalizar a gravidade da situação. Em boletim de ocorrência registrado na terça-feira (25), especialistas relataram que 70 pacientes correm risco de morte ou podem sofrer sequelas graves devido à falta de materiais essenciais para os procedimentos.

De acordo com o registro policial, três médicos e um advogado compareceram à delegacia para protocolar um BO de preservação de direito, destacando as condições precárias de trabalho. Segundo os profissionais, não há nenhum material ortopédico disponível para cirurgias de urgência e emergência, o que compromete a vida de dezenas de pacientes.

O chefe do setor de ortopedia da Santa Casa, João Antônio Pereira Mateus, informou que a unidade tem 70 pacientes em estado crítico, aguardando insumos e próteses para cirurgia. Mesmo após um ofício emitido na segunda-feira (24), solicitando providências, a chegada de novos pacientes não cessou e o setor de ortopedia entrou em colapso. A falta de pagamentos a fornecedores agrava ainda mais o problema, afetando outras áreas do hospital.

A Santa Casa é referência em ortopedia e recebe pacientes dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul, mas enfrenta dificuldades financeiras recorrentes. Atualmente, há 114 pacientes internados no setor ortopédico, sendo que 56 aguardam a primeira cirurgia. No pronto-socorro, são quase 60 pacientes adultos e 15 crianças aguardando atendimento.

Déficit milionário e crise financeira

No último dia 17 de março, uma audiência pública na Assembleia Legislativa discutiu a crise dos hospitais filantrópicos, com foco especial na Santa Casa. A instituição apresentou documentos que comprovam um déficit mensal de R$ 13,23 milhões, totalizando R$ 158,85 milhões anuais. Segundo a administração do hospital, a falta de reajuste financeiro desde 2022 provocou um desequilíbrio econômico que resultou no atual cenário crítico.

A contratualização com a prefeitura de Campo Grande venceu em meados de 2024 e, desde então, as partes negociam um novo acordo. Enquanto isso, a Santa Casa obteve uma decisão judicial determinando o repasse imediato de R$ 46 milhões, mas a administração alerta para o risco de paralisação dos atendimentos caso não haja novos aportes financeiros.

Outro fator que agrava a crise é o não recebimento de recursos federais reconhecidos judicialmente. Trata-se de verbas destinadas à Santa Casa durante a pandemia de Covid-19, em 2020, que ainda aguardam decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para serem liberadas.

Conselho Regional de Medicina cobra soluções urgentes

Diante da gravidade do cenário, o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS) manifestou preocupação com o impacto na população e cobrou medidas emergenciais. Em nota oficial divulgada na terça-feira (25), o presidente da entidade, Carlos Idelmar de Campos Barbosa, reforçou que é fundamental adotar todas as providências para garantir atendimento digno aos pacientes. O CRM-MS afirma que está atuando em conjunto com gestores da saúde e representantes da Santa Casa na busca por soluções efetivas.

Falta de leitos no estado agrava a situação

A crise hospitalar em Mato Grosso do Sul se intensifica a cada ano, especialmente a partir da segunda quinzena de março, quando a demanda por leitos cresce significativamente. O estado possui apenas um leito hospitalar para cada 607 habitantes, um índice bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere de três a cinco leitos por mil habitantes. Dos 6.690 leitos existentes em Mato Grosso do Sul, apenas 4.556 são públicos e atendem via SUS.

A ausência de um hospital municipal em Campo Grande também sobrecarrega as unidades da Capital, que precisam dividir sua estrutura com pacientes do interior. Santa Casa, Hospital Regional e Hospital Universitário absorvem grande parte dessa demanda, enquanto as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e os Centros Regionais de Saúde (CRS) se tornam alternativas precárias para quem aguarda atendimento.

Governo do Estado e União precisam atuar com mais força

O orçamento de Campo Grande gira em torno de R$ 2 bilhões anuais para a SESAU, e a prefeitura tem feito ajustes significativos para priorizar áreas essenciais, como a saúde. Medidas de contenção já reduziram a folha e os custos administrativos em quase 30%, possibilitando maior investimento nos serviços que a população mais necessita. No entanto, a Santa Casa atende não apenas os moradores da Capital, mas pacientes de todo o estado, estimando-se que mais de 600 mil pessoas do interior utilizem os serviços da instituição sem que haja repasse proporcional de recursos por parte dos municípios de origem.

Diante desse cenário, é fundamental que o Governo do Estado e o Governo Federal intensifiquem sua atuação para resgatar as condições da Santa Casa. O hospital desempenha um papel essencial na saúde pública do estado e precisa de maior suporte financeiro para continuar prestando atendimento de qualidade à população.

Informações do portal MidiaMax