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Pollon é barrado no trio elétrico, acusa políticos de usar manifestação como pré-campanha e depois sobe para expor “teatro”

Deputado federal mais votado de MS explode contra oportunistas e denuncia entrega do PL ao PSDB em discurso que mudou a história da manifestação

Marcos Pollon - Foto: Divulgação
Marcos Pollon – Foto: Divulgação

Durante a manifestação deste domingo (03/08) em Campo Grande, que reuniu cerca de 300 pessoas pedindo anistia e a saída de Lula e Alexandre de Moraes do poder, aconteceu um episódio tenso envolvendo o deputado federal Marcos Pollon (PL-MS). O parlamentar, que foi o mais votado do PL em Mato Grosso do Sul, decidiu expor publicamente os bastidores da política local depois de ser impedido de discursar no trio elétrico.

A situação começou quando Pollon foi barrado de subir no trio onde outros políticos estavam discursando para os manifestantes. Irritado, ele gravou stories nas redes sociais mostrando sua indignação por ter sido excluído, denunciando que estavam usando a manifestação para fazer pré-campanha eleitoral.

Deputado fica de fora e registra tudo

Inicialmente impedido de participar, Pollon gravou um vídeo em frente ao trio elétrico mostrando quem estava no palanque: o vereador Rafael Tavares, o deputado federal Rodolfo Nogueira, a vice-prefeita de Dourados Gianni Nogueira, o ex-presidente do PL Tenente Portela, sua filha e vereadora de Campo Grande Ana Portela, o deputado estadual Coronel David e outros.

A situação mudou quando apareceu alguém dizendo que “o Diogo falou pra você subir”. Foi só então que Pollon conseguiu acesso ao microfone e partiu para o confronto com os próprios correligionários de uma forma nunca vista na política sul-mato-grossense.

Discurso explosivo vira viral

O presidente estadual do NOVO, Guto Scarpanti, registrou o momento em que Pollon explodiu: “Não vou admitir viver numa ditadura. E outra, quem aqui engoliu o PSDB, engoliu o PL. Palmas para quem engoliu esse teatro absurdo, porque eu não engoli, eu não. Eu vim aqui pedir para subir, porque eu não ia falar hoje, eu não ia subir hoje. Só que o Rodolfo falou que quem não subir é covarde, pois então eis aqui o covarde que pediu para subir e não deixaram.”

ASSISTA:

O deputado continuou sem filtros: “Justamente pra denunciar aqueles que entregaram o PL pra porcaria do PSDB! Canalhas! Canalhas! E eu falo, é na cara! Eu quero que se foda, tá? Pollon, você acabou de enterrar sua carreira política… foda-se! Eu não vou entregar meu país, porra! Déspotas! Cretinos! Canalhas! Canalhas! Canalhas! Canalhas!”

Manifestação usada como palanque político

O que mais revoltou Pollon foi perceber que uma manifestação legítima da população estava sendo instrumentalizada como palanque eleitoral. O parlamentar mais votado do partido no estado foi deixado de fora enquanto outros políticos aproveitavam o momento para se promover.

A situação ganhou contornos irônicos: uma manifestação contra o autoritarismo sendo controlada de forma autoritária pelos próprios organizadores, que impediram a participação do deputado federal mais votado do PL em Mato Grosso do Sul.

Conflito tem raiz nas eleições municipais

Essa tensão pública tem origem nas eleições municipais de 2024, quando Pollon foi removido da presidência estadual do PL após se lançar candidato a prefeito de Campo Grande e recusar apoiar o PSDB. A direção nacional do partido, junto com Jair Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto, optou por apoiar o deputado federal tucano Beto Pereira.

O problema é que Beto Pereira tem histórico de votações contrárias ao governo Bolsonaro entre 2019 e 2022. A situação ficou estranha: o PL abandonou candidatura própria, deixou de apoiar Adriane Lopes (que Bolsonaro havia prometido apoiar) e decidiu apoiar os tucanos, partido que historicamente nunca se alinhou com pautas conservadoras.

Adriane vence e estratégia fracassa

A estratégia deu errado. Os tucanos foram derrotados e Adriane Lopes se elegeu como a primeira mulher prefeita de Campo Grande em 125 anos de história. A população rejeitou a aliança entre PL e PSDB, mostrando que não aceitou essa aproximação.

Figura fundamental na vitória de Adriane foi a senadora Tereza Cristina, ex-ministra do governo Bolsonaro, que manteve o apoio à candidatura mesmo após Bolsonaro mudar de lado. A senadora demonstrou melhor leitura política local que a direção nacional do Partido Liberal.

Direita dividida em MS

O episódio da manifestação deixou claro que existem duas visões diferentes sobre os rumos da direita em Mato Grosso do Sul. De um lado, políticos dispostos a fazer alianças pragmáticas para vencer eleições, mesmo que isso signifique se aproximar de quem sempre votou contra pautas conservadoras. Do outro, lideranças que preferem manter coerência ideológica, mesmo pagando o preço político.

A atitude de Pollon foi arriscada politicamente, mas mostrou coragem ao denunciar publicamente o que considera uma contradição grave. Seu discurso representa um alerta contra o abandono de princípios conservadores em nome da conveniência eleitoral.

O futuro dirá se essa postura inspirará outros políticos conservadores ou se resultará em maior isolamento para Pollon. O que não se pode negar é que seu discurso jogou luz sobre contradições que vinham sendo ignoradas pela direção partidária.