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Pen drive de Bolsonaro continha apenas músicas gospel e fotos pessoais

Perícia do Instituto Nacional de Criminalística descarta relevância do material para investigação

Jair Bolsonaro Foto: Fellipe Sampaio/STF
Jair Bolsonaro Foto: Fellipe Sampaio/STF

O pen drive apreendido pela Polícia Federal na residência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), durante operação realizada na última sexta-feira, 18 de julho, continha exclusivamente músicas gospel e algumas fotografias pessoais, conforme revelou perícia técnica conduzida pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC). O resultado da análise digital frustra expectativas de investigadores que esperavam encontrar material relevante para o inquérito em andamento.

A informação sobre o conteúdo inócuo do dispositivo foi obtida pelo jornalista Túlio Amâncio, da Band, através de fontes próximas à investigação. A extração completa dos dados armazenados no pen drive confirmou que o material não possui qualquer conexão com as acusações que pesam contra o ex-presidente, sendo classificado como irrelevante para os procedimentos investigativos.

Bolsonaro desconhecia origem do dispositivo

Ainda na sexta-feira, quando questionado sobre a apreensão, Bolsonaro demonstrou desconhecimento sobre a procedência do pen drive e levantou a hipótese de que o objeto pudesse pertencer à sua esposa, Michelle Bolsonaro (PL). O ex-presidente relatou de forma detalhada as circunstâncias em que o dispositivo foi encontrado pelos agentes federais.

“Uma pessoa pediu para ir ao banheiro e voltou com um pen drive na mão. Eu nunca abri um pen drive na minha vida. Não tenho nem laptop em casa. A gente fica preocupado com isso. Você acha que, se tivesse algo comprometedor – não sou bandido – se tivesse, estaria lá, à disposição? Vou perguntar à minha esposa se era dela”, declarou o líder conservador.

A declaração de Bolsonaro ressalta sua alegada falta de familiaridade com dispositivos digitais e sugere que o pen drive pode ter sido esquecido na residência por visitantes ou familiares. Esta versão ganha credibilidade com a confirmação de que o conteúdo se limitava a material de entretenimento religioso e registros fotográficos pessoais.

Outras apreensões chamam mais atenção

Embora o pen drive tenha se revelado irrelevante, outros itens confiscados durante a mesma operação mantêm interesse investigativo. A Polícia Federal apreendeu 14 mil dólares americanos em espécie, equivalentes a aproximadamente 78 mil reais, além de oito mil reais em moeda nacional.

Particularmente intrigante foi a descoberta de uma cópia da ação judicial apresentada pela plataforma Rumble contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, movida nos tribunais americanos. Este documento pode indicar o acompanhamento de Bolsonaro sobre iniciativas jurídicas internacionais relacionadas às suas restrições nas redes sociais.

Medidas cautelares rigorosas impostas

Paralelamente às apreensões, Bolsonaro foi submetido a um conjunto de medidas cautelares que restringem significativamente sua liberdade de movimento e comunicação. O ex-presidente deve utilizar tornozeleira eletrônica e está proibido de manter contato com embaixadores, diplomatas estrangeiros e outros investigados no mesmo inquérito.

As restrições incluem ainda recolhimento domiciliar noturno de segunda a sexta-feira e confinamento integral durante os fins de semana. Estas medidas refletem a gravidade com que a Justiça trata as acusações contra o ex-mandatário, mesmo diante da ausência de evidências no material digital apreendido.

Acusações de golpe de Estado persistem

Apesar do resultado negativo da perícia no pen drive, Bolsonaro continua enfrentando acusações de liderar um suposto plano de golpe de Estado, com pena máxima que pode atingir 43 anos de prisão. O ex-presidente mantém sua postura de negação das acusações e insiste em caracterizar o processo como perseguição política motivada por questões ideológicas.

A descoberta de que o pen drive continha apenas músicas gospel ironicamente contrasta com a gravidade das suspeitas que recaem sobre Bolsonaro. O material religioso encontrado no dispositivo destoa completamente do perfil esperado para evidências de conspiração contra o Estado democrático de direito.

Investigação continua sem evidências digitais

O resultado da perícia representa um revés para os investigadores que apostavam na possibilidade de encontrar comunicações comprometedoras ou documentos que corroborassem as teorias de conspiração. A ausência de material relevante no pen drive obriga a investigação a buscar evidências através de outros meios e fontes.

A situação evidencia como operações de busca e apreensão podem gerar expectativas que nem sempre se confirmam na prática. O caso do pen drive com músicas gospel ilustra perfeitamente como especulações iniciais podem se mostrar completamente infundadas após análise técnica adequada.

O episódio também levanta questionamentos sobre a proporcionalidade entre as medidas restritivas impostas e as evidências efetivamente encontradas durante as operações policiais, alimentando o debate sobre os limites da atuação investigativa em casos de natureza política.