Marca brasileira apaga post com rapper Oruam depois de enxurrada de críticas sobre ligação com o crime organizado

A grife brasileira Osklen protagonizou mais um episódio que expõe como empresas nacionais frequentemente ignoram as consequências sociais de suas escolhas de marketing. A marca foi obrigada a apagar uma publicação no Instagram após vestir o rapper Oruam em ensaio da revista britânica Dazed, enfrentando avalanche de críticas por supostamente legitimar figuras ligadas ao crime organizado.
A polêmica surgiu quando internautas descobriram que Oruam é filho de Marcinho VP, ex-líder do Comando Vermelho que está preso desde 1996. A associação entre a marca de luxo e o filho de um dos mais conhecidos chefes do tráfico carioca gerou revolta nas redes sociais, forçando a Osklen a uma humilhante marcha ré.
Internautas não perdoam associação com o crime
As críticas foram devastadoras para a imagem da marca carioca. Usuários do Instagram acusaram a Osklen de “apoiar a bandidagem” e legitimar o tráfico de drogas através da glamourização de figuras conectadas ao crime organizado. A pressão foi tão intensa que a empresa bloqueou os comentários da publicação original antes de deletá-la completamente.
A reação do público brasileiro demonstra crescente consciência sobre a responsabilidade social das marcas. Diferentemente de outras polêmicas superficiais que dominam as redes sociais, esta tocou em questão fundamental: até que ponto empresas devem validar personalidades cujas trajetórias estão conectadas ao crime organizado, mesmo que indiretamente?
Marca tenta justificar o injustificável
Em comunicado publicado nos stories, a Osklen tentou minimizar o escândalo alegando que a campanha foi produzida “de forma independente” pela revista britânica Dazed. A justificativa soa como tentativa desesperada de transferir responsabilidade, ignorando que a própria marca escolheu republicar e celebrar o ensaio em suas redes sociais.
“A publicação no Instagram não teve como objetivo manifestar qualquer posicionamento em relação ao personagem, mas divulgar a presença da marca nessa publicação internacional”, afirmou a empresa no comunicado. A explicação revela ingenuidade preocupante ou cálculo mal feito de marketing, subestimando a sensibilidade do público brasileiro em relação ao tema.
A marca ainda alegou ter removido o post porque a publicação motivou “leituras divergentes” dos seguidores, eufemismo que tenta mascarar o fracasso estrondoso da estratégia de comunicação.
Filho de Marcinho VP e a glamourização do crime
Oruam, nome artístico de Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, carrega o peso de ser filho de uma das figuras mais emblemáticas do crime organizado carioca. Marcinho VP liderou o Comando Vermelho em período de intensa violência no Rio de Janeiro, antes de ser preso em 1996, onde permanece até hoje.
A questão central não é julgar o filho pelos crimes do pai, mas questionar se marcas de luxo devem promover figuras cujas trajetórias estão inevitavelmente ligadas ao crime organizado. A glamourização dessas conexões pode enviar mensagem perigosa para jovens vulneráveis, romantizando o mundo do tráfico.
Responsabilidade social empresarial em xeque
O episódio expõe como empresas brasileiras frequentemente falham em avaliar adequadamente o impacto social de suas escolhas de marketing. A Osklen, marca que se posiciona como sofisticada e consciente, demonstrou surpreendente falta de sensibilidade ao ignorar as implicações de associar sua imagem a figuras conectadas ao crime.
A pressão do público forçou a empresa a recuar, mas o estrago já estava feito. A polêmica levanta questões importantes sobre os limites da liberdade artística versus responsabilidade social, especialmente quando marcas de luxo estão envolvidas.
Lição para o mercado de moda nacional
O caso Osklen serve como alerta para outras empresas do setor de moda e luxo. Em época de crescente consciência social, o público brasileiro não tolera mais escolhas empresariais que possam legitimar ou glamourizar conexões com o crime organizado, mesmo que indiretamente.
A rapidez com que a marca foi obrigada a recuar demonstra o poder das redes sociais em responsabilizar empresas por suas escolhas. A lição é clara: responsabilidade social não é opcional para marcas que desejam manter credibilidade no mercado brasileiro.
O episódio também revela como a internacionalização de marcas brasileiras pode criar armadilhas quando não há cuidado adequado com o contexto local. O que pode parecer aceitável em publicação internacional pode gerar consequências devastadoras no mercado doméstico.