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O preço do descontrole: juros disparam para 14,75% e atingem maior nível em 19 anos

Política econômica do governo força BC a tomar medida drástica para conter inflação descontrolada

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em mais um sinal alarmante para a economia brasileira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou nesta quarta-feira (7) a taxa básica de juros do país para impressionantes 14,75% ao ano, patamar não visto desde outubro de 2006. A decisão unânime dos diretores da autoridade monetária evidencia a gravidade do cenário inflacionário que o Brasil enfrenta sob a atual gestão federal.

O movimento ascendente da Selic ocorre em meio a preocupações crescentes com a política econômica doméstica, especialmente no que diz respeito ao controle dos gastos públicos e seus efeitos sobre a inflação. Na justificativa para o aumento de 0,50 ponto percentual, o Copom destacou um ambiente externo particularmente adverso, mas não deixou de apontar fragilidades internas.

“O ambiente externo mostra-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de sua política comercial e de seus efeitos”, afirmou o Comitê em sua nota oficial, acrescentando que “tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de maior tensão geopolítica”.

Descontrole das expectativas inflacionárias

Um dado particularmente preocupante revelado na decisão é o completo descolamento das expectativas de inflação em relação às metas estabelecidas. Segundo o Copom, “as expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 5,5% e 4,5%, respectivamente” – números que demonstram a perda de credibilidade do compromisso fiscal do atual governo.

O Comitê também admitiu que “a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta”, mesmo com sinais de “incipiente moderação no crescimento” econômico, o que sugere um cenário de estagflação – combinação tóxica de estagnação econômica e inflação alta – que há muito não assombrava o país.

Entre os principais fatores de risco para uma inflação ainda mais alta, o BC mencionou especificamente “uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado”, referência que pode ser interpretada como crítica à política fiscal expansionista do governo federal.

Consequências para o cidadão

Com essa elevação, o custo do crédito para empresas e consumidores deve subir ainda mais, pressionando o orçamento das famílias brasileiras e encarecendo investimentos produtivos. A taxa Selic, que serve como referência para as demais taxas praticadas no mercado, afeta desde o financiamento imobiliário até o cheque especial, impactando diretamente o poder de compra da população.

Embora o Copom tenha afirmado que a decisão visa a “convergência da inflação para o redor da meta” e também “implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, especialistas independentes questionam se o atual mix de política fiscal expansionista com política monetária restritiva não estaria, na verdade, comprometendo o crescimento sustentável do país.

O cenário econômico que se desenha sinaliza tempos desafiadores pela frente, com juros elevados que podem perdurar mais do que o esperado caso o governo não adote medidas efetivas para controlar o déficit público e recuperar a confiança dos agentes econômicos.