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O escândalo por trás da camisa vermelha: como a mudança na Seleção fere o próprio estatuto da CBF

Regulamento oficial determina que uniformes se limitem às cores da bandeira nacional, colocando em xeque a polêmica decisão que abandona tradição de quase 70 anos

Foto: EFE/Fernando Bizerra Jr
Foto: EFE/Fernando Bizerra Jr

A polêmica sobre o segundo uniforme da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2026 ganhou novos contornos após especialistas apontarem que a escolha da cor vermelha não apenas desrespeita a tradição, mas também contraria diretamente o próprio estatuto da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A decisão de abandonar o tradicional azul, utilizado desde a Copa do Mundo de 1958, foi recebida com indignação por torcedores e especialistas após sua revelação pelo site Footy Headlines nesta segunda-feira (28).

Uma análise do documento oficial da entidade máxima do futebol brasileiro revela que o Capítulo III, artigo 13, inciso III do regulamento de 2017 é taxativo ao determinar que os uniformes da Seleção Brasileira devem se restringir às cores presentes na bandeira nacional: verde, amarelo, azul ou branco. Esta determinação estatutária levanta sérias dúvidas sobre a legalidade da decisão administrativa que autorizou a criação de um uniforme vermelho para representar o Brasil no próximo Mundial.

“Os uniformes obedecerão às cores existentes na bandeira da CBF e conterão o emblema descrito no inciso II deste artigo, podendo variar de acordo com exigências do clima, em modelos aprovados pela Diretoria, não sendo obrigatório que cada tipo de uniforme contenha todas as cores existentes na bandeira e sendo permitida a elaboração de modelos comemorativos em cores diversas, sempre mediante aprovação da Diretoria”, estabelece claramente o estatuto.

O documento abre exceção apenas para “modelos comemorativos em cores diversas”, como ocorreu recentemente com a camisa preta utilizada em amistoso contra a Espanha em março de 2024, parte de uma campanha de conscientização contra o racismo em apoio a Vinícius Júnior. Neste caso, o uniforme tinha caráter excepcional e pontual, diferentemente de uma camisa oficial para disputar uma Copa do Mundo.

O narrador Galvão Bueno, voz histórica do futebol brasileiro, não escondeu sua indignação com a mudança. “Apareceu alguém para cometer aquilo que eu digo ser um crime. Para a Copa do Mundo de 2026, a camisa azul vai deixar de existir, e vai ter uma camisa vermelha. O que tem isso a ver com a história…? Isso é uma ofensa sem tamanho à história do futebol brasileiro!”, protestou em vídeo que circula nas redes sociais.

A questão ultrapassa a esfera esportiva e toca em pontos sensíveis sobre a preservação dos símbolos nacionais e da identidade brasileira. Desde o título mundial conquistado na Suécia em 1958, a combinação da camisa amarela com a camisa azul como alternativa tornou-se parte inseparável da imagem da Seleção Pentacampeã mundial.

Especialistas em direito desportivo questionam se a diretoria atual da CBF teria competência para autorizar uma mudança que contraria explicitamente o estatuto da entidade, documento que norteia todas as decisões administrativas e estabelece os limites de atuação dos dirigentes.

Até o momento, a CBF não se manifestou oficialmente sobre a controvérsia, nem confirmou a autenticidade da informação divulgada pelo site especializado. O que se sabe é que, caso a mudança seja confirmada, poderá enfrentar questionamentos jurídicos baseados no próprio estatuto da entidade, além da forte reação negativa já manifestada por ícones do futebol e por grande parte da torcida brasileira.