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MST exige R$ 1 bilhão do governo Lula enquanto cofres públicos enfrentam restrições

Movimento pressiona por mais que o dobro da verba atual para reforma agrária, expondo contradições na relação com aliado histórico

Foto: Joedson Alves / EFE
Foto: Joedson Alves / EFE

Em meio às crescentes dificuldades fiscais enfrentadas pelo país, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) intensifica suas exigências financeiras ao governo federal. Durante a Feira Nacional da Reforma Agrária, que se encerrou no domingo (11) em São Paulo, lideranças do movimento anunciaram que pressionarão a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por um aumento de 150% nos recursos destinados à reforma agrária, saltando dos atuais R$ 400 milhões para impressionantes R$ 1 bilhão.

A nova demanda financeira foi oficialmente apresentada a parlamentares e representantes da base governista que visitaram o evento, evidenciando a estratégia do movimento de capitalizar politicamente sua proximidade histórica com o PT. Apesar da expectativa de tratamento privilegiado com a volta de Lula ao poder, o MST não esconde sua insatisfação com o ritmo das políticas agrárias implementadas pela atual administração.

“É necessário o aumento dos recursos para aquisição de terras e assentamento das famílias”, declarou Débora Nunes, dirigente nacional do movimento, em entrevista à Folha de S.Paulo. O discurso, no entanto, ignora completamente o cenário de restrição orçamentária e as dificuldades do governo em conter o crescente déficit público.

A cobrança milionária ocorre justamente quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta convencer o mercado e a sociedade sobre a responsabilidade fiscal do governo. Mesmo assim, o MST mantém sua tradicional tática de pressão, demonstrando que nem mesmo com aliados ideológicos no poder o movimento abre mão de suas exigências financeiras.

A atual dotação de R$ 400 milhões, já considerável em tempos de ajuste fiscal, é classificada como “insuficiente” pelos líderes do movimento, que parecem desconsiderar os múltiplos desafios orçamentários enfrentados pela União, incluindo áreas prioritárias como saúde, educação e segurança pública.

Essa pressão pública expõe as contradições na relação entre o governo petista e o movimento, tradicionalmente um dos pilares da base social do PT. A impaciência demonstrada pelo MST revela que, apesar da proximidade ideológica, o movimento mantém uma postura de cobrança permanente, especialmente quanto à controversa política de desapropriação de terras.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), pasta comandada por Paulo Teixeira e responsável pela política fundiária, evitou comentar oficialmente o pedido de ampliação orçamentária, sinalizando o desconforto do governo com mais essa pressão financeira em um momento de escassos recursos públicos.