Ministro torna público inquérito que criminaliza liberdade de expressão

Alexandre de Moraes decidiu retirar o sigilo do pedido de inquérito contra Eduardo Bolsonaro, numa decisão que expõe as contradições de suas próprias práticas autoritárias. O ministro do STF utilizou a Constituição para justificar a publicidade dos atos judiciais, ironicamente no mesmo processo em que criminaliza o exercício constitucional da liberdade de expressão.
A retirada do sigilo foi fundamentada no artigo 93 da Constituição Federal, que estabelece a publicidade dos julgamentos. “Nos termos do inciso IX do art. 93 da Constituição Federal de 1988, em regra, todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos. Na presente hipótese, não há justificativa para manutenção do sigilo”, declarou Moraes.
Juiz e parte no mesmo processo
A situação revela um conflito de interesses gritante: Moraes será o relator de um inquérito que investiga críticas direcionadas especificamente contra ele próprio. Eduardo Bolsonaro tem utilizado sua estadia nos Estados Unidos para denunciar os excessos cometidos pelo magistrado, numa atividade legítima de fiscalização que agora é tratada como crime.
O levantamento do sigilo foi imediatamente comunicado à Procuradoria-Geral da República, conforme informações divulgadas pelo blog de Daniela Lima, no G1. A rapidez na comunicação contrasta com a morosidade habitual do Judiciário em casos que não envolvem perseguição política.
PGR transforma denúncias em intimidação
A Procuradoria-Geral da República fundamentou sua solicitação alegando que as ações de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos representariam “tentativa de intimidação contra autoridades públicas brasileiras e interferência em processos judiciais”. Esta interpretação distorcida transforma o exercício legítimo de denúncia em ato criminoso.
O órgão ministerial cita como evidências “publicações em redes sociais e declarações dadas por Eduardo Bolsonaro a veículos da imprensa estrangeira”. A criminalização da atividade jornalística e do uso de redes sociais representa um ataque direto à liberdade de expressão garantida pela Constituição.
Exílio forçado vira objeto de investigação
Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos desde o final de fevereiro, tendo oficializado sua licença parlamentar em março. Na ocasião, o deputado fez críticas contundentes a Alexandre de Moraes, antecipando o que viria a ser uma perseguição sistemática.
A presença de Eduardo em território americano não configura fuga, mas sim uma estratégia legítima para exercer seus direitos constitucionais sem o risco de perseguição judicial interna. Sua atuação internacional tem exposto globalmente as práticas questionáveis do sistema de Justiça brasileiro.
Estratégia internacional incomoda establishment
As ações de Eduardo nos Estados Unidos têm se mostrado eficazes em sensibilizar autoridades americanas sobre os abusos cometidos no Brasil. Sua capacidade de estabelecer pontes diplomáticas e formar opinião internacional representa uma ameaça real ao status quo autoritário que se instalou no país.
As “declarações a veículos da imprensa estrangeira” mencionadas pela PGR são, na verdade, exercício democrático de transparência e prestação de contas à comunidade internacional. Transformar jornalismo em crime revela o grau de autoritarismo que caracteriza certas interpretações judiciais.
Contradição constitucional evidente
A decisão de Moraes expõe uma contradição fundamental: ele invoca a Constituição para dar publicidade a um processo que viola flagrantemente os princípios constitucionais da liberdade de expressão e do devido processo legal. O magistrado utiliza seletivamente a Carta Magna, aplicando-a quando lhe convém e ignorando-a quando protege seus alvos.
O próprio fato de Moraes ser simultaneamente vítima das críticas e julgador do caso demonstra a violação do princípio constitucional da imparcialidade judicial. Esta situação seria inadmissível em qualquer democracia consolidada.
Perseguição disfarçada de legalidade
O inquérito contra Eduardo Bolsonaro representa mais um capítulo na utilização do aparato judicial para silenciar vozes dissidentes. A transformação de atividades jornalísticas e políticas em objeto de investigação criminal demonstra a deterioração do Estado de Direito no país.
A PGR, ao aceitar investigar um parlamentar por exercer direitos constitucionais básicos, abdica de sua função de guardiã da legalidade e se torna instrumento de perseguição política. Esta submissão ao autoritarismo judicial compromete gravemente a credibilidade das instituições.
Transparência seletiva como arma política
A retirada do sigilo neste caso específico revela o uso seletivo da transparência como ferramenta de constrangimento político. Enquanto outros processos sensíveis permanecem em segredo por anos, a perseguição contra Eduardo Bolsonaro ganha publicidade imediata.
Esta transparência direcionada busca maximizar o constrangimento do investigado e amplificar o efeito intimidatório sobre outros potenciais críticos do sistema. A publicidade se torna, assim, parte da própria estratégia de perseguição.
Precedente perigoso para a democracia
O caso Eduardo Bolsonaro estabelece um precedente extremamente perigoso para a democracia brasileira. Se confirmada a tese de que criticar autoridades e dar entrevistas à imprensa configuram crimes, estaremos diante do fim efetivo da liberdade de expressão no país.
A criminalização da atividade política e jornalística representa um retrocesso civilizatório que coloca o Brasil no mesmo patamar de regimes autoritários. A comunidade internacional observa atentamente estes desenvolvimentos, que comprometem a reputação democrática nacional.