Projeto da Bracell em Água Clara perde força, e empresa dá prioridade à unidade de Bataguassu
A Bracell, empresa pertencente ao grupo indonés Royal Golden Eagle (RGE), solicitou ao governo de Mato Grosso do Sul autorização para estudos de viabilidade com o objetivo de instalar duas megafábricas de celulose no Estado. No entanto, apesar da expectativa gerada, a unidade prevista para Água Clara pode não se concretizar, com a companhia concentrando seus esforços na instalação da planta industrial em Bataguassu.
Conforme antecipado pelo Correio do Estado, a Bracell iniciou o processo de licenciamento ambiental primeiro para Água Clara e, posteriormente, para Bataguassu. Contudo, declarações do Secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, indicam que uma das unidades pode ser postergada. “A Bracell solicitou dois termos de referência. Um para Água Clara, no ano passado, e um para Bataguassu. O que a gente tem de informação da empresa, conforme o andamento, é que ela vai tomar a decisão de qual desses empreendimentos seria o primeiro”, afirmou Verruck durante um evento.
Os indícios apontam que Bataguassu será a prioridade da companhia. Processos seletivos para cargos de nível superior, como analistas e gerentes, e transferências de funcionários de outras unidades para a região reforçam essa possibilidade. Em contrapartida, área de Água Clara tem movimentação limitada ao setor florestal.
Projeto de Água Clara perde força
Durante o Fórum Empresarial Brasil-Indonésia, realizado no Rio de Janeiro em novembro do ano passado, a Bracell anunciou planos ambiciosos para a instalação de uma indústria de celulose em Água Clara. O investimento estimado era de US$ 4 bilhões (R$ 23 bilhões), com capacidade produtiva de 2,8 milhões de toneladas anuais. A expectativa era gerar cerca de 10 mil empregos na construção e outros 3 mil na fase operacional. Os estudos de impacto ambiental estavam previstos para conclusão até março deste ano, com a possibilidade de liberação da licença de instalação pelo governo estadual até novembro.
Contudo, a solicitação de um novo termo de referência para Bataguassu trouxe dúvidas sobre a continuidade do projeto em Água Clara. A empresa também deixou de demonstrar interesse na aquisição ou arrendamento de terras na região, o que, segundo especialistas, reforça a hipótese de arquivamento temporário da iniciativa.
“Tenho clientes com terras disponíveis para arrendamento em Ribas do Rio Pardo. Ofereci para a Bracell, mas eles deixaram claro que ali não é o setor deles e nem quiseram negociar”, revelou o corretor de imóveis Valdemiro Gonçalves.
Segundo ele, essa postura faz parte de uma estratégia adotada pelos grandes players do setor de celulose no Brasil, como Suzano, Eldorado, Arauco e a própria Bracell. As empresas teriam delimitado áreas de atuação para evitar concorrência na disputa por terras, o que também explicaria a ausência de interesse da Bracell por Água Clara, uma região que teria ficado sob a influência da Suzano.
Perspectiva para as fábricas
A Bracell tem uma forte presença no Brasil, com unidades industriais na Bahia e em São Paulo, além de operações florestais nesses estados, em Mato Grosso do Sul e em Sergipe. Suas fábricas produzem celulose solúvel especial, utilizada na indústria têxtil, farmacxtil, farmac\u00eutica e cosmética, além da celulose kraft, destinada à fabricação de papéis.
A região conhecida como Vale da Celulose, que engloba diversos municípios do Mato Grosso do Sul, incluindo Água Clara e Bataguassu, já representa 24% da produção nacional da commodity, sendo o segundo maior polo de cultivo de eucalipto do Brasil. O Estado também lidera a produção de madeira em tora para papel e celulose.
Atualmente, Mato Grosso do Sul conta com três fábricas em operação: a Eldorado Celulose e duas unidades da Suzano, sendo uma delas a maior do mundo, inaugurada no ano passado em Ribas do Rio Pardo. Além disso, há planos para mais duas plantas industriais: a fábrica da Arauco e a primeira unidade da Bracell no Estado. Caso os planos avancem, a segunda fábrica da Bracell seria a sexta do setor em solo sul-mato-grossense.
Enquanto a definição sobre Água Clara permanece incerta, Bataguassu desponta como a grande aposta da companhia, consolidando Mato Grosso do Sul como um dos principais polos de celulose do país.
Com informações do Correio do Estado.
