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Inacreditável: Em briga judicial, Consórcio Guaicurus diz que não transporta passageiros

Manobra para escapar de indenizações contrasta com cobrança de mais verba pública e lucros de R$ 27,2 milhões

Foto: Henrique Arakaki, Midiamax
Foto: Henrique Arakaki, Midiamax

O Consórcio Guaicurus vem adotando uma estratégia controversa para se esquivar de responsabilidades judiciais: alega não realizar transporte coletivo de passageiros quando é processado por usuários que sofreram acidentes nos ônibus. A manobra jurídica busca transferir a culpa para as quatro empresas que compõem o grupo, mesmo sendo o consórcio o signatário oficial do contrato de concessão do transporte urbano de Campo Grande.

A contradição fica evidente quando observamos que a mesma entidade que nega transportar passageiros na Justiça move ações contra a prefeitura cobrando recursos adicionais, justamente alegando queda no número de usuários e defasagem tarifária. Essa postura dual revela uma estratégia oportunista que visa maximizar receitas enquanto minimiza responsabilidades.

Caso emblemático expõe contradições

Um processo recente ilustra perfeitamente essa prática questionável. Uma cozinheira que sofreu ferimentos após ficar com a perna presa na porta do ônibus durante o desembarque busca indenização pelos danos causados. O Consórcio tentou se eximir da responsabilidade utilizando o mesmo argumento de sempre: não realizar transporte de passageiros.

Entretanto, o próprio site institucional do Consórcio contradiz essa alegação, apresentando como missão “atender a necessidade de deslocamento da população”. A incongruência entre o discurso judicial e a divulgação pública evidencia a natureza artificial dessa defesa.

Magistrado derruba tentativa de fuga

O juiz Tito Gabriel Cosato Barreiro rejeitou categoricamente a tentativa do Consórcio de se retirar do processo. Em decisão publicada no dia 15 de maio, o magistrado foi enfático ao confirmar a responsabilidade da entidade pelo transporte de passageiros.

“Não há falar em ilegitimidade do Consórcio Guaicurus, uma vez que a demanda tem causa de pedir fundada na ocorrência de acidente sofrido pela autora no interior do ônibus que presta serviço público de transporte municipal, nesta Capital”, determinou o juiz, desmascarando a estratégia evasiva.

Frota sucateada gera problemas diários

A situação precária dos ônibus que circulam pela capital é tema recorrente nas reclamações dos usuários. Leitores do Jornal Midiamax relatam diariamente problemas com veículos em péssimo estado de conservação, gerando riscos constantes à segurança dos passageiros.

Recentemente, a prefeitura de Campo Grande determinou que o Consórcio Guaicurus retirasse 98 ônibus sucateados de circulação, substituindo-os por veículos novos. A medida demonstra o grau de deterioração da frota e a necessidade de intervenção do poder público para garantir segurança mínima aos usuários.

Lucros milionários contrastam com alegações de dificuldade

Enquanto a diretoria do Consórcio alega enfrentar dificuldades financeiras para justificar a manutenção de veículos obsoletos, nova perícia contratada pelos próprios empresários por R$ 272 mil revela dados surpreendentes sobre a saúde financeira do grupo.

O levantamento demonstra que o Consórcio obteve lucro líquido de R$ 27,2 milhões entre 2013 e 2024, após todos os pagamentos e custos operacionais. A receita total no período alcançou impressionantes R$ 1,8 bilhão, evidenciando a robustez financeira da operação.

CPI investiga irregularidades

A situação da frota sucateada tornou-se objeto de investigação parlamentar, com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Municipal de Campo Grande. A CPI busca esclarecer as responsabilidades pela manutenção de veículos inadequados nas ruas da capital.

O contraste entre os lucros milionários e a qualidade deficiente dos serviços prestados levanta questionamentos sobre o cumprimento adequado do contrato de concessão. A população continua refém de um sistema que prioriza resultados financeiros em detrimento da segurança e conforto dos usuários.

A postura contraditória do Consórcio Guaicurus – negando responsabilidades quando processado mas cobrando mais recursos públicos – revela uma mentalidade empresarial que precisa ser confrontada tanto pelo Judiciário quanto pelos órgãos fiscalizadores municipais.