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Hugo Motta decide levar ao plenário da Câmara a cassação do mandato de Carla Zambelli

Presidente da Casa cumpre determinação do STF, mas transfere decisão final aos deputados após ministro Alexandre de Moraes decretar prisão definitiva da parlamentar

Hugo Motta Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados
Hugo Motta Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou nesta terça-feira (10) que submeterá ao plenário da Casa a decisão sobre a perda do mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP). A medida atende à determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que no sábado (7) converteu a prisão preventiva da parlamentar em definitiva e confirmou a cassação de seu mandato.

A decisão de Motta representa um procedimento regimental que garante o devido processo legislativo, transferindo a palavra final sobre a situação da deputada paulista para o conjunto dos parlamentares. Durante declarações à imprensa, o presidente da Câmara explicou os próximos passos do processo.

“Eu darei o cumprimento regimental. Nós vamos notificar para que ela possa se defender e a palavra final será a palavra do plenário. Isso é cumprir a decisão”, declarou Motta, demonstrando o compromisso da Casa com os procedimentos institucionais estabelecidos.

Plenário como instância soberana

Na segunda-feira (9), Hugo Motta havia sinalizado que o Parlamento cumpriria a determinação do STF, mas deixou clara sua preferência por submeter a questão ao plenário em vez de decidir apenas pela Mesa Diretora. A posição reflete o respeito à soberania do conjunto dos deputados federais.

“Essa decisão poderia ser cumprida pela Mesa [Diretora] ou pelo Plenário. E é o Plenário que tem a legitimidade desta Casa e ele decide para onde a Casa vai. Ele é soberano e está acima de cada um de nós”, enfatizou o presidente da Câmara.

A escolha por levar a questão ao plenário demonstra o cuidado institucional de Motta em garantir que decisões de tamanha relevância sejam tomadas pelo conjunto dos representantes do povo brasileiro, preservando assim a legitimidade democrática do processo.

Condenação por invasão ao sistema do CNJ

A situação de Carla Zambelli decorre de condenação imposta pela Primeira Turma do STF em maio deste ano. A deputada foi sentenciada a dez anos de prisão pela invasão do sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), onde foram inseridos documentos fraudulentos, incluindo um falso mandato de prisão contra o próprio ministro Alexandre de Moraes.

A ação criminosa foi realizada em parceria com o hacker Walter Delgatti, que também recebeu a mesma condenação. O caso representa uma das situações mais graves envolvendo parlamentares federais nos últimos anos, considerando a natureza dos crimes praticados contra o sistema judiciário brasileiro.

No sábado (7), Moraes não apenas confirmou a perda do mandato, mas também converteu a prisão preventiva em definitiva, determinando que Zambelli comece a cumprir imediatamente os dez anos de reclusão. Além disso, o ministro ordenou o bloqueio das contas bancárias e ativos financeiros da parlamentar.

Tentativa de fuga para a Europa

A confirmação da condenação ocorreu em momento peculiar, três dias após Zambelli anunciar publicamente sua saída do Brasil com a intenção de se estabelecer na Europa. A parlamentar deixou o país semanas após receber a condenação inicial, numa clara tentativa de evitar o cumprimento da pena imposta pela Justiça brasileira.

A Câmara dos Deputados havia autorizado, na quinta-feira (5), o pedido de licença não remunerada apresentado pela deputada em 29 de novembro. O pedido foi protocolado seis dias antes da parlamentar tornar pública sua decisão de deixar o território nacional, revelando um planejamento prévio para evitar as consequências judiciais de seus atos.

Recursos rejeitados pelo STF

Na sexta-feira (6), a Primeira Turma do STF rejeitou definitivamente os recursos apresentados pela defesa de Carla Zambelli na tentativa de reverter a sentença condenatória. A decisão encerrou as possibilidades de modificação da pena no âmbito da Corte Suprema, consolidando a condenação a dez anos de prisão e a perda do mandato parlamentar.

A rejeição dos recursos demonstra que o caso foi devidamente analisado em todas as instâncias possíveis, com a Justiça mantendo sua posição sobre a gravidade dos crimes praticados pela deputada e seu comparsa.

Medidas de bloqueio patrimonial

O Banco Central informou ao STF que cumpriu a determinação de bloqueio das contas bancárias e ativos financeiros de Carla Zambelli. A medida foi autorizada na quarta-feira (4) pelo ministro Alexandre de Moraes, como consequência da expedição do mandado de prisão da parlamentar que optou por deixar o país.

O bloqueio patrimonial representa uma medida cautelar para garantir que a condenada não utilize recursos financeiros para prolongar sua permanência no exterior ou dificultar eventual processo de extradição. A determinação demonstra o rigor da Justiça brasileira em casos que envolvem tentativas de fuga de condenados.

Procedimentos na Câmara dos Deputados

Com a decisão de Hugo Motta de levar a questão ao plenário, Carla Zambelli será formalmente notificada para apresentar sua defesa antes da votação que definirá o destino de seu mandato. O procedimento garante o direito ao contraditório e à ampla defesa, mesmo diante de uma condenação já transitada em julgado no STF.

O plenário da Câmara terá a palavra final sobre a cassação do mandato, numa votação que promete repercussão nacional dada a gravidade dos crimes praticados pela deputada. A decisão dos parlamentares será um teste importante para a postura da Casa diante de casos que envolvem violações graves ao sistema judiciário.

Impactos institucionais

O caso Carla Zambelli representa um marco na relação entre os Poderes da República, especialmente no que se refere ao cumprimento de decisões judiciais por parte do Poder Legislativo. A postura de Hugo Motta em dar tramitação regular à determinação do STF demonstra o respeito às instituições democráticas.

A situação também evidencia os limites da imunidade parlamentar quando deputados e senadores praticam crimes que extrapolam o exercício do mandato. A invasão de sistemas eletrônicos do Judiciário e a criação de documentos falsos representam condutas incompatíveis com a dignidade do cargo público.

O desfecho do caso na Câmara dos Deputados será acompanhado com atenção pela sociedade brasileira, que espera ver suas instituições funcionando adequadamente diante de situações que colocam em xeque a credibilidade do sistema democrático nacional.