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Gastos com viagens de “colaboradores eventuais” explodem 213% no governo Lula

Despesas com pessoas sem cargo formal chegaram a quase R$ 400 milhões em dois anos, com Janja consumindo R$ 237 mil só em passagens

Lula e Janja em viagem Foto: Ricardo Stuckert / PR
Lula e Janja em viagem Foto: Ricardo Stuckert / PR

O governo federal desembolsou R$ 392,6 milhões em passagens e diárias para pessoas sem vínculo formal com o Poder Executivo nos dois primeiros anos do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O montante representa aumento de 213% em relação aos últimos dois anos do governo Jair Bolsonaro (PL), quando foram gastos R$ 125,1 milhões, já corrigidos pela inflação.

Os dados, extraídos do Painel de Viagens do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, revelam crescimento desproporcional nos gastos com os chamados “colaboradores eventuais” em comparação ao aumento geral das despesas governamentais com deslocamentos.

Janja lidera gastos individuais

O caso mais emblemático entre os colaboradores eventuais é o da primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja. Desde a posse do marido, as passagens emitidas pelo governo para ela totalizaram R$ 237 mil, valor que não inclui deslocamentos em aeronaves da Força Aérea Brasileira nem custos da equipe de apoio. Em diversas ocasiões, a primeira-dama viajou na classe executiva, elevando ainda mais os custos.

Considerando apenas gastos com passagens aéreas, esse grupo específico consumiu R$ 200,9 milhões nos dois primeiros anos do governo Lula, contra R$ 54,6 milhões nos últimos dois anos de Bolsonaro. O aumento de 267% demonstra mudança significativa na política de deslocamentos do atual governo.

Crescimento desproporcional

Os números mostram que os gastos com pessoas sem cargo cresceram proporcionalmente mais que o total das despesas com viagens governamentais. Entre 2023 e 2024, a quantia total gasta com deslocamentos de servidores e não-servidores alcançou R$ 4,5 bilhões, alta de 89,3% em relação aos dois anos anteriores (R$ 2,3 bilhões).

Nas passagens especificamente, o salto foi de 99,7%, chegando a R$ 1,69 bilhão no governo Lula, contra R$ 849,9 milhões registrados entre 2021 e 2022. A disparidade indica priorização de gastos com pessoas externas ao quadro oficial de servidores públicos.

Justificativas oficiais questionáveis

A Secretaria de Comunicação argumentou que a comparação entre os períodos é afetada pela pandemia de Covid-19, que restringiu deslocamentos aéreos nos anos anteriores. A pasta alegou ainda que as passagens para “colaboradores eventuais” seguem as regras do Decreto n° 10.193/2019.

Entretanto, a justificativa não explica o crescimento desproporcional dos gastos com não-servidores em relação ao aumento geral das despesas com viagens. O padrão sugere expansão deliberada do círculo de beneficiários dos recursos públicos para deslocamentos, incluindo pessoas sem função oficial no governo.

A explosão nos gastos com colaboradores eventuais levanta questionamentos sobre critérios de prioridade na aplicação de recursos públicos e necessidade de maior transparência na justificativa desses desembolsos extraordinários.