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Escândalo da merenda podre: empresa sob investigação continua vencendo licitações em MS

Mesmo após prisões e provas de pagamento de propina, Royal Soluções fatura mais R$ 40 mil em Camapuã; esquema já movimentou R$ 10 milhões de dinheiro público

Artur Moser / Agência RBS
Artur Moser / Agência RBS

Em mais um exemplo flagrante de como a corrupção continua devorando recursos públicos destinados às crianças brasileiras, a Royal Soluções Comércio e Serviços Ltda, investigada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) por fraude em licitações de merenda escolar, segue ampliando seus negócios com prefeituras de Mato Grosso do Sul, apesar das evidências escandalosas contra seus proprietários.

O caso revela a preocupante fragilidade dos sistemas de controle na administração pública, permitindo que uma empresa sob investigação por fornecer alimentos podres e manipular concorrências continue tendo acesso a contratos públicos. Mais alarmante ainda é que a empresa é apontada por receber pagamentos por produtos que sequer foram entregues às escolas.

Ignorando as investigações em curso, a prefeitura de Camapuã, município localizado a 140 km da capital, assinou contrato de R$ 40 mil com a Royal Soluções para fornecimento de “gêneros alimentícios” por 12 meses, com possibilidade de prorrogação. O acordo, formalizado através do contrato número 122/2025, foi celebrado no dia 28 de abril, apenas uma semana atrás, em clara demonstração de descaso com o dinheiro do contribuinte.

Empresa na família, dinheiro no bolso

As apurações do Ministério Público indicam que a Royal está registrada em nome da sogra de Mauro Mayer da Silva, empresário preso pelo Gaeco em 18 de fevereiro. Mayer é proprietário da Zellitec Comércio e Serviços, outra empresa que comercializa merenda escolar com a prefeitura de Água Clara, evidenciando um esquema familiar que se ramifica para capturar contratos em diferentes municípios.

Provas coletadas durante as investigações mostram o modus operandi do grupo criminoso, que incluía o pagamento de propina a servidores municipais para facilitar o esquema. Mensagens de WhatsApp recuperadas pelos investigadores revelam uma servidora pública contando dinheiro, sugerindo o recebimento de vantagens indevidas.

A voracidade do grupo por recursos públicos não para por aí. A Royal também venceu outros sete pregões promovidos pelo Governo do Estado para fornecer merenda escolar em Sonora, Campo Grande, Anastácio, Aquidauana e Jardim, somando mais R$ 133.166,26 aos seus cofres. No total, as investigações apontam que o esquema já movimentou cerca de R$ 10 milhões.

Respostas burocráticas

Questionada sobre a situação, a Secretaria de Estado de Educação (SED) limitou-se a responder com a burocracia de sempre, afirmando que “monitora a empresa” e que exige “todas as certidões” necessárias para a celebração dos contratos, “cumprindo o processo legal”.

“A Secretaria reforça, ainda, que todos os procedimentos de aquisição dos gêneros alimentícios das unidades escolares da Rede Estadual de Ensino são pautados nos pareceres referenciais da PGE (Procuradoria Geral do Estado) e os ritos processuais ocorrem conforme previsto na Lei nº 14.133”, complementou o órgão.

Enquanto isso, a prefeitura de Camapuã mantém silêncio sobre sua decisão de contratar uma empresa sob investigação criminal. Em janeiro deste ano, o município abriu licitação para comprar alimentos por até R$ 2,9 milhões, visando atender às secretarias de Educação, Cultura, Turismo, Esporte e Lazer durante o ano letivo de 2025.

Com informações do MidiaMax