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Descaso e desperdício: moradora luta por 8 dias contra vazamento em via pública ignorado pela Águas Guariroba

Concessionária nega a existência do problema enquanto asfalto cede e água potável é desperdiçada na divisa dos bairros Coophatrabalho e Sírio Libanês

A poça refletindo a fachada da casa, é o ponto principal onde a água fica minando 24 horas durante os últimos 30 dias. O volume de água de intensifica a noite.
A poça refletindo a fachada da casa, é o ponto principal onde a água fica minando 24 horas durante os últimos 30 dias. O volume de água de intensifica a noite.

Em plena crise hídrica nacional, uma moradora da rua Imbuia, no bairro Coophatrabalho, enfrenta uma batalha quase solitária contra o desperdício de água em via pública. Solange Rodrigues Jacques, 62 anos, vem relatando insistentemente à Águas Guariroba sobre um vazamento localizado em frente à sua residência, na esquina com a rua Bacaba.

O vazamento, que já dura aproximadamente um mês, apresenta sinais preocupantes de comprometimento estrutural do asfalto. É possível sentir o pavimento ceder levemente sob os pés, e ao pular sobre a área afetada, nota-se um claro “amortecimento” – fenômeno incomum para um material rígido como o asfalto, especialmente quando testado por uma senhora de menos de 70kg.

“Durante o dia, principalmente nos dias quentes, o vazamento parece discreto. A água evapora rapidamente com o calor do sol, deixando apenas uma mancha persistente no asfalto. Mas à noite, quando a pressão da água aumenta e não há o calor solar para disfarçar, o problema se torna evidente”, relata a moradora.

Na última sexta-feira, com o tempo nublado, o vazamento mostrou sua verdadeira dimensão: a água brotava no meio do asfalto e no canto junto à calçada, escorrendo até a boca de lobo a aproximadamente 2,5 metros de distância. A situação piora consideravelmente quando veículos pesados trafegam pela área, provocando bolhas no asfalto e intensificando o fluxo de água – como se o solo estivesse sendo comprimido pelo peso, forçando a água a escapar.

O desperdício e a negligência

O caso da rua Imbuia é emblemático do descaso com que algumas concessionárias tratam os recursos hídricos. Enquanto campanhas de conscientização pedem que a população economize cada gota, vazamentos como este podem desperdiçar milhares de litros de água tratada diariamente, sem que providências efetivas sejam tomadas.

Concessionárias de serviços públicos essenciais têm obrigações claras perante os consumidores e a sociedade. Entre elas, destacam-se o pronto atendimento às solicitações, a resolução eficiente dos problemas reportados e a transparência nas comunicações. No entanto, o que se observa neste caso é uma sucessão de protocolos, promessas não cumpridas e, mais grave, negativas da existência do problema mesmo diante de evidências visuais.

A água é um recurso finito e essencial à vida. Seu desperdício, além do impacto ambiental, representa prejuízo econômico e compromete a segurança do abastecimento futuro. O bom atendimento às denúncias de vazamentos deveria ser tratado com prioridade por quem detém a concessão de exploração deste recurso.

Cronologia de uma luta contra o descaso

O primeiro contato oficial com a Águas Guariroba sobre o vazamento ocorreu em 10 de abril, após o problema já persistir por cerca de três semanas. Na ligação que durou 9 minutos e 7 segundos, foi estabelecido um prazo de 24 horas para resolução.

Cinco dias depois, em 15 de abril, uma nova ligação foi realizada. Desta vez, em contato com a atendente Daniele, sob o protocolo 20250415042823, a moradora foi informada que uma equipe teria visitado o local no dia 11 de abril, mas não encontrou vazamento algum – informação contestada pela denunciante, que observava o vazamento enquanto falava ao telefone. Foi gerada então a Ordem de Serviço nº 329238, com prazo para resolução até o fim do dia seguinte.

No dia 16 de abril, novo contato foi estabelecido via WhatsApp com o atendente Paulo, gerando o protocolo 20250415043563 e estendendo o prazo para o dia 17. Ainda no mesmo dia, por telefone, a atendente Julia (protocolo 20250416039699) reiterou que o chamado permanecia aberto e solicitou novo contato no dia seguinte.

Em 17 de abril, a situação permanecia inalterada. Em ligação com duração de 12 minutos e 17 segundos, a atendente Rosângela informou não haver resposta para nenhum dos protocolos anteriores. A tentativa de registrar o pedido como prioritário foi interrompida quando a ligação caiu.

Hoje, sexta-feira santa, 18 de abril, após quatro tentativas frustradas de contato pelo telefone 0800, um novo atendimento via WhatsApp foi iniciado às 11h02. Sob o protocolo 20250418007168, a atendente Aline relatou que, segundo a equipe técnica, “no local não tem nenhum vestígio de vazamento”. Mesmo com o envio de vídeos evidenciando o problema, a única solução oferecida foi a abertura de nova ordem de serviço (2025/348093), estendendo o prazo para 22 de abril – totalizando 12 dias desde o primeiro contato oficial.

Coincidência preocupante

Casos como o da moradora Solange não são isolados em Campo Grande. Há aproximadamente um mês, situação semelhante ocorreu no bairro Estrela Dalva, onde moradores também sofreram com água minando no meio do asfalto. O problema foi noticiado pelo Campo Grande News (LEIA AQUI), evidenciando um padrão inquietante de ocorrências e respostas insuficientes por parte da concessionária. No caso do Estrela Dalva, os residentes também relataram dias de espera e múltiplos contatos sem solução efetiva, enquanto viam o recurso sendo desperdiçado diante de seus olhos e o pavimento se deteriorando gradualmente – exatamente como ocorre agora no Coophatrabalho.