Maria Elvira Salazar ameaça vetar vistos a autoridades que “censuram americanos no exterior”

A interferência dos Estados Unidos na soberania judicial brasileira ganhou um novo capítulo com as declarações agressivas da deputada republicana Maria Elvira Salazar, representante da Flórida na Câmara norte-americana. Nesta quinta-feira (29), a parlamentar publicou uma série de ataques direcionados ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, apoiando uma proposta do secretário de Estado Marco Rubio que prevê restrições de visto a autoridades estrangeiras.
A iniciativa representa uma escalada preocupante na tentativa americana de pressionar o sistema judiciário brasileiro, utilizando ameaças diplomáticas para interferir em decisões soberanas do país. Salazar citou nominalmente Moraes, classificando-o como “simpatizante autoritário” e sugerindo que o magistrado estaria tentando censurar cidadãos norte-americanos além das fronteiras brasileiras.
Ameaças diplomáticas revelam imperialismo americano
“Que isso sirva de alerta para tiranos ao redor do mundo e simpatizantes autoritários como Alexandre de Moraes, do Brasil: se você tentar censurar cidadãos americanos, mesmo além de nossas fronteiras, não será bem-vindo nos Estados Unidos”, declarou Salazar, utilizando linguagem provocativa que expõe o caráter intimidatório da iniciativa.
A deputada republicana é autora de um projeto de lei que estabelece sanções contra autoridades de outros países que adotem medidas de combate à desinformação online, uma clara tentativa de interferir na capacidade dos Estados nacionais de regular conteúdo digital em seus próprios territórios. Essa proposta representa uma violação flagrante do princípio da soberania nacional e demonstra como setores do governo americano tentam exportar sua agenda política através de pressões diplomáticas.
Campanha orquestrada contra soberania judicial
As declarações de Salazar se inserem em uma campanha crescente nos Estados Unidos que visa confrontar governos e instituições estrangeiras que não se alinham completamente com os interesses americanos. A parlamentar tem utilizado sua posição para atacar sistematicamente figuras como Moraes, cuja atuação à frente dos inquéritos sobre milícias digitais e desinformação incomoda setores da direita internacional.
“Os dias em que repressores usurfuíam de nossas liberdades enquanto as negavam a outros acabaram. A liberdade de expressão é sagrada e nós a defenderemos em todos os lugares”, afirmou a deputada, em um discurso que soa mais como retórica eleitoral do que política externa responsável.
Hipocrisia americana sobre liberdade de expressão
A ironia da posição americana fica evidente quando se considera que os próprios Estados Unidos possuem ampla legislação para regular conteúdo digital e combater desinformação em seu território. Empresas de tecnologia americanas rotineiramente removem conteúdo e suspendem contas com base em suas próprias políticas, muitas vezes sem transparência ou direito de defesa adequado.
Além disso, o governo americano mantém listas de sanções contra indivíduos e entidades estrangeiras, frequentemente baseadas em critérios políticos questionáveis. A tentativa de punir autoridades brasileiras por exercerem suas funções constitucionais representa um duplo padrão inaceitável na condução das relações internacionais.
Pressão externa compromete independência judicial
O episódio expõe como pressões externas podem ser utilizadas para tentar influenciar decisões do sistema judiciário brasileiro. A ameaça de restrições de visto representa uma forma de coação internacional que pode comprometer a independência necessária para o exercício da função jurisdicional.
Essa interferência se torna ainda mais problemática quando consideramos que as decisões de Moraes foram tomadas no âmbito de investigações legítimas sobre tentativas de subversão da ordem democrática brasileira. Transformar o combate à desinformação em questão de política externa americana revela uma visão distorcida sobre soberania nacional.
Polarização internacional prejudica diplomacia
A transformação de Moraes em figura central e polarizadora não apenas na política brasileira, mas também no tabuleiro ideológico internacional, prejudica as relações diplomáticas entre os países. A personalização de conflitos institucionais representa um retrocesso nas práticas diplomáticas tradicionais, que sempre priorizaram o diálogo respeitoso entre nações soberanas.
A postura americana também alimenta tensões desnecessárias entre os dois países, especialmente em um momento em que a cooperação internacional se torna essencial para enfrentar desafios globais como mudanças climáticas, criminalidade transnacional e instabilidade econômica.
O Brasil deve responder a essas provocações mantendo sua dignidade nacional e reafirmando o princípio da não-interferência em assuntos internos como base fundamental das relações internacionais modernas.