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CNN revela esquema de venda ilegal de dados sigilosos de aposentados do INSS

Empresas oferecem informações completas de beneficiários por valores irrisórios a advogados

INSS (Imagem ilustrativa) Foto: RAFA NEDDERMEYER/AGÊNCIA BRASIL
INSS (Imagem ilustrativa) Foto: RAFA NEDDERMEYER/AGÊNCIA BRASIL

Uma investigação exclusiva da CNN Brasil expôs um esquema criminoso que envolve a comercialização de dados sigilosos de aposentados e pensionistas do INSS. Empresas especializadas vendem informações confidenciais, incluindo nome completo, endereço, CPF e valor dos benefícios, diretamente para escritórios de advocacia interessados nesse material sensível.

A reportagem teve acesso direto a uma dessas organizações criminosas, que oferece listas com 500 nomes de beneficiários por apenas R$ 150. As informações seriam extraídas diretamente do sistema interno do Instituto Nacional do Seguro Social, evidenciando graves falhas de segurança na proteção de dados previdenciários.

Valores irrisórios para informações valiosas

O esquema opera com valores surpreendentemente baixos considerando a quantidade e sensibilidade dos dados oferecidos. Com investimento de R$ 450, advogados podem adquirir informações completas de 10 mil aposentados e pensionistas. Por R$ 600, é possível comprar dados de todos os beneficiários da Previdência Social de um estado inteiro.

Essa precificação baixa sugere que o esquema opera em larga escala, com volume significativo de transações que compensam os valores reduzidos por operação. A facilidade de acesso e os preços acessíveis indicam que a prática pode estar mais disseminada do que se imagina no mercado jurídico.

Sistema vulnerável facilita crimes

O advogado Pedro Almeida, especialista em direito previdenciário, conecta essa comercialização ilegal de dados com outros crimes que atingem aposentados, especialmente os descontos ilegais em benefícios. Para o jurista, a venda dessas informações evidencia a fragilidade estrutural do sistema previdenciário brasileiro.

“Eu já atuo frente ao INSS há oito anos e posso garantir que os descontos das aposentadorias são apenas a ponta do iceberg de um INSS totalmente frágil, vulnerável e com um sistema de segurança crítico”, declarou Almeida à CNN, destacando que os problemas são mais profundos do que aparentam.

Investigação revela facilidade do esquema

A CNN conseguiu estabelecer contato direto com uma das empresas envolvidas no esquema, gravando negociações que demonstram a simplicidade para acessar informações que deveriam ser protegidas por sigilo absoluto. A facilidade com que essas transações ocorrem revela falhas graves nos controles de segurança digital do INSS.

A capacidade de gravar as negociações indica que essas empresas operam com naturalidade, sugerindo que consideram baixo o risco de serem descobertas ou punidas pelas autoridades competentes. Essa postura demonstra possível sensação de impunidade no setor.

Impacto na vida dos beneficiários

A comercialização desses dados coloca milhões de aposentados e pensionistas em situação de extrema vulnerabilidade. Com acesso a informações completas, criminosos podem aplicar diversos tipos de golpes, desde abordagens presenciais até fraudes sofisticadas envolvendo empréstimos não solicitados e descontos indevidos.

Os idosos, principais beneficiários da Previdência Social, tornam-se alvos preferenciais de esquemas criminosos que exploram tanto sua vulnerabilidade quanto o conhecimento detalhado de sua situação financeira obtido ilegalmente.

Responsabilização institucional necessária

O caso exposto pela CNN evidencia a necessidade urgente de reformulação dos sistemas de segurança digital do INSS. A facilidade com que dados sigilosos são extraídos e comercializados representa falha institucional grave que compromete a confiança dos beneficiários no sistema previdenciário.

A situação exige investigação aprofundada para identificar como essas informações são obtidas, quem são os responsáveis internos pelo vazamento e que medidas podem ser implementadas para evitar novas ocorrências. A proteção de dados previdenciários deve ser prioridade absoluta da autarquia.

Necessidade de maior fiscalização

A descoberta deste esquema reforça a importância de maior fiscalização sobre empresas que oferecem serviços relacionados a dados pessoais, especialmente quando envolvem informações de órgãos públicos. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e órgãos de controle devem intensificar ações preventivas.

O caso também levanta questionamentos sobre a eficácia dos mecanismos atuais de proteção digital no setor público, exigindo revisão abrangente dos protocolos de segurança utilizados pelo INSS para salvaguardar informações de seus beneficiários.