Nomeação do procurador Gilberto Waller Júnior ocorre em meio à operação que investiga desvio de R$ 6,3 bilhões de aposentados, incluindo sindicato ligado ao irmão do presidente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou nesta quarta-feira (30) o procurador federal Gilberto Waller Júnior para presidir o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), autarquia que se encontra no epicentro de um escândalo bilionário envolvendo descontos irregulares em benefícios previdenciários. A escolha recai sobre um servidor com experiência em órgãos de controle, atual corregedor da Procuradoria-Geral Federal, vinculada à Advocacia-Geral da União (AGU).
A nomeação acontece em um cenário de crise institucional, após o presidente anterior, Alessandro Stefanutto, ter solicitado exoneração diante de uma ordem judicial que determinava seu afastamento do cargo. A saída de Stefanutto está diretamente relacionada à Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal, que investiga um esquema fraudulento que pode ter desviado até R$ 6,3 bilhões dos cofres do INSS através de descontos não autorizados em benefícios de aposentados e pensionistas.
Particularmente constrangedor para o governo é o fato de que entre as entidades sob investigação está o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), liderado pelo irmão do presidente Lula, José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, cuja arrecadação registrou aumento de 414% desde 2019, conforme revelado recentemente pela própria Polícia Federal.
A troca de comando foi formalizada por meio de determinação presidencial à ministra-chefe substituta da Casa Civil, Miriam Belchior, e deve ser publicada em edição extra do Diário Oficial da União, conforme informou a Secretaria de Comunicação Social (Secom) em nota oficial.
O histórico profissional do novo presidente do INSS inclui passagens pelos órgãos de controle e combate à corrupção. Waller Júnior é bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais com pós-graduação em Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro. Sua carreira no serviço público iniciou-se como procurador do próprio INSS em 1998, onde já ocupou as funções de corregedor-geral (2001-2004) e subprocurador-geral (2007-2008).
Posteriormente, atuou na Controladoria-Geral da União (CGU) como ouvidor-geral da União (2016-2019) e corregedor-geral da União (2019-2023), antes de assumir seu atual cargo na Procuradoria-Geral Federal.
O governo espera que o perfil técnico do novo presidente possa conter a crise e restaurar a credibilidade da instituição, severamente abalada pelas recentes revelações. No entanto, analistas políticos questionam se uma simples troca de comando será suficiente para solucionar os problemas estruturais que permitiram o funcionamento de esquemas fraudulentos de tamanha magnitude dentro da previdência nacional.
A pressão sobre o governo Lula aumenta enquanto parlamentares da oposição já articulam a instalação de uma CPI para investigar o caso apelidado de “Roubo dos Aposentados”, em uma clara referência à responsabilidade política pela supervisão inadequada da autarquia.