Luxo e contradição: embarcação usada em Belém para a COP30 levanta suspeitas sobre gastos públicos e discurso ambiental

O governo federal voltou a ser alvo de críticas por falta de transparência após decidir manter sob sigilo os detalhes do contrato de aluguel do iate Iana III, embarcação utilizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pela primeira-dama Janja durante a estadia em Belém (PA), nos preparativos para a COP30. O Palácio do Planalto se recusou a divulgar o total desembolsado com a hospedagem flutuante do casal e da equipe, alegando motivos de segurança, embora o caso envolva recursos públicos.
Segundo informações oficiais, a Presidência negociou a diária da embarcação em cerca de R$ 2,7 mil por pessoa, o que representa ao menos R$ 5,4 mil apenas para Lula e Janja. Entretanto, não há transparência sobre quantas pessoas se hospedaram no iate nem sobre custos adicionais de operação, logística e combustível, que podem ter elevado significativamente o valor da estadia.
O Iana III, de propriedade de uma empresa de Manaus (AM), foi levado a Belém exclusivamente para atender à comitiva presidencial. Com capacidade para até 65 pessoas, 10 camarotes, sala de jantar, solarium e deck, o iate oferece conforto de alto padrão e foi atracado em uma base da Marinha, depois que o governo recusou o uso de uma embarcação militar, considerada “inadequada” pelos assessores do presidente.
Mas o que mais chama atenção é a incoerência ambiental: o Iana III consome entre 120 e 150 litros de diesel por hora, conforme levantamento do site PlatôBR. O dado contrasta frontalmente com o discurso de sustentabilidade defendido por Lula e pela COP30, evento que o governo pretende transformar em vitrine mundial da pauta ambiental.
Além do impacto ambiental, não há registro de nenhuma compensação de emissões de carbono nem de uso de combustíveis alternativos, como biodiesel, algo que o Planalto não confirmou nem negou até o momento. Para completar, o governo ainda custeia embarcações auxiliares e navios de apoio que integram a logística da comitiva presidencial na Amazônia.
A falta de clareza em torno dos custos e da motivação do sigilo reacende o debate sobre o uso de recursos públicos para benefícios pessoais e de luxo, especialmente em um governo que alega defender austeridade e compromisso ambiental.
Enquanto o valor total do contrato segue desconhecido, cresce a pressão de parlamentares e entidades de controle para que o Planalto revele o montante gasto com o iate e explique a razão do sigilo, que se soma a uma série de questionamentos sobre os altos custos das viagens presidenciais.





