Decisão histórica do Vaticano encerra debate sobre o papel de Maria e confirma o ensino bíblico de que apenas Cristo é o mediador entre Deus e os homens

Após décadas de discussão entre teólogos e setores da Igreja Católica, o Vaticano concluiu oficialmente que Maria não é corredentora com Jesus Cristo e não participa da salvação da humanidade. A definição foi apresentada no documento “Mater Populi Fidelis”, divulgado pelo cardeal Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, e marca o fim de um dos debates mais prolongados da teologia mariana.
De acordo com o texto, Maria foi escolhida por Deus para gerar o Salvador, mas sua colaboração no plano divino não lhe confere poder de mediação nem autoridade espiritual.
“Tendo em conta a necessidade de explicar o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da redenção, é sempre inoportuno o uso do título de corredentora (…), que corre o risco de ofuscar a única mediação salvífica de Cristo”, afirma o documento.
Ainda segundo o documento, “em sentido estrito, não podemos falar de outra mediação na graça que não seja a do Filho de Deus encarnado”, afastando a ideia de que Maria pudesse atuar como mediadora na concessão da graça divina. Com isso, o Vaticano encerra as pressões internas por um quinto dogma mariano, que alguns grupos católicos defendiam há décadas.
O tema da “corredenção” sustentou um intenso debate ao longo do último século. João Paulo II se referiu em várias ocasiões a Maria como “corredentora”, enquanto Bento XVI evitou abordá-lo publicamente. Já o papa Francisco, em uma homilia improvisada em 2019, tratou o assunto com ironia:
“Quando nos vierem com histórias de que é preciso declará-la isso, ou fazer este outro dogma ou isto, não nos percamos em bobagens.”
Mesmo com as negativas anteriores, o movimento para criar um novo dogma persistiu. Segundo o cardeal mexicano Juan Sandoval, foi entregue ao Vaticano um documento com as assinaturas de 570 bispos de 79 países, além de milhares de religiosos e mais de oito milhões de fiéis, pedindo o reconhecimento de Maria como mediadora e corredentora. A campanha, chamada “Vox Populi Mariae Mediatrici”, esteve em curso desde a década de 1990.
O tema também foi discutido no XIII Congresso Mariológico Internacional, realizado em Czestochowa, na Polônia, em 1996. Na ocasião, uma comissão de especialistas, a pedido da Santa Sé, concluiu que o termo “corredentora” não possuía fundamento teológico consistente, recomendando que não fosse proclamado como dogma.
A nova orientação reafirma, assim, a posição central da doutrina católica: Maria foi escolhida e abençoada por Deus, tendo papel singular na história da fé, mas a redenção da humanidade permanece obra exclusiva de Jesus Cristo.





