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Contratos de parentes de diretores do INSS incluem cláusula anticorrupção

Familiares de ex-dirigentes investigados por propina mantinham acordos com empresários da fraude que movimentou R$ 700 milhões

Prédio da Previdência Social – INSS Foto: José Cruz/Agência Brasil
Prédio da Previdência Social – INSS Foto: José Cruz/Agência Brasil

Empresários que comandam quatro organizações responsáveis por faturar conjuntamente R$ 700 milhões no esquema de descontos irregulares do INSS firmaram contratos de “consultoria” que continham até cláusulas “anticorrupção” com parentes de dirigentes do Instituto investigados por suspeita de receberem propina para viabilizar as fraudes contra aposentados, conforme revelou o Metrópoles.

A apuração acessou diversos acordos entre empresas desse grupo com consultorias do advogado Eric Fidelis, filho do ex-diretor de Benefícios André Fidelis, e Thaisa Hoffman, esposa do ex-procurador-geral do INSS Virgilio de Oliveira Filho. Esses repasses estão sob investigação por serem supostas formas de propina aos servidores públicos averiguados pela Polícia Federal.

Empresários ostentam patrimônio milionário em região nobre

Como demonstrou o Metrópoles domingo passado, os empresários Igor Dias Delecrode, 28 anos, Felipe Macedo Gomes, 35, Anderson Cordeiro, 38, e Américo Monte, 45, dirigem as entidades Amar Brasil Clube de Benefícios, que arrecadou R$ 324 milhões com os descontos, a Master Prev (R$ 232 milhões), a ANDAPP (R$ 94 milhões) e a AASAP (R$ 63 milhões).

Relatórios do Coaf encaminhados à CPMI do INSS evidenciam que esses empresários, proprietários também de fintech, construtora e empresa de crédito consignado, exibem joias, residências e automóveis luxuosos em Alphaville, área nobre de Barueri. Os documentos registram pelo menos um pagamento de Américo Monte a Erica Fidelis no valor de R$ 93 mil.

Acordos contraditórios incluem cláusulas antifraude

Um dos contratos foi estabelecido entre a Cálculo Certo, empresa de Felipe Gomes, e a Protected Soluções, do advogado Eric Fidelis, constituída em Alphaville — embora o filho do ex-diretor do INSS resida e trabalhe em Recife. O documento estabelece como objetivo “serviços advocatícios especializados em desenvolvimento e licenciamento de software” e inclui cláusula “anticorrupção” garantindo que as partes não violarão regulamentos nem cometerão “suborno, extorsão ou propina”.

Outro acordo, também com cláusula “anticorrupção”, foi firmado pela esposa de Virgílio de Oliveira Filho. Neste caso, a prestação seria de “assessoria técnica empresarial e consultoria técnica preventiva” para trabalhadores. O Metrópoles procurou os citados através de suas defesas e empresas, mas não obteve resposta.