Paciente cardíaco teve cinco internações em dois meses e usa prontuários médicos como papel higiênico em ato de revolta

Um morador de Santa Rita do Pardo protagonizou protesto inusitado contra a Secretaria Municipal de Saúde após esperar um ano e dois meses por uma consulta médica de rotina. O homem, que possui problemas cardíacos e usa marca-passo, gravou áudio indignado relatando sua situação e demonstrando revolta ao usar prontuários médicos como papel higiênico.
O paciente, que realizava consultas rotineiramente a cada seis meses, afirma que o atendimento “virou uma palhaçada” e que a secretaria “travou tudo”. Segundo seu relato, ele teve cinco internações entre agosto e setembro, sendo duas apenas no mês passado, demonstrando a gravidade de seu quadro de saúde.
Situação crítica ignorada pela gestão
A revolta do munícipe intensificou-se após sucessivas internações hospitalares sem que os encaminhamentos médicos fossem processados adequadamente pela secretaria municipal. O homem relatou que diversos prontuários e encaminhamentos “extraviaram” ou “sumiram” no sistema de saúde local.
“Papel de secretaria de saúde de Santa Rita do Pardo, eu estou limpando o rabo, porque meu papel higiênico eu não uso mais”, declarou em áudio enviado a grupo de mensagens. O protesto, embora de forma extrema, expõe falhas graves no sistema municipal de saúde que deixam pacientes em situação de vulnerabilidade.
Descaso com documentação médica
O manifestante criticou duramente o fato de documentos médicos oficiais, carimbados e assinados por profissionais de saúde, não terem valor prático no sistema municipal. Segundo ele, os encaminhamentos necessários para tratamento em Campo Grande são sistematicamente perdidos ou ignorados pela burocracia local.
A situação revela possível colapso no sistema de referência e contrarreferência de Santa Rita do Pardo, prejudicando pacientes que dependem de tratamentos especializados na capital. O caso demanda investigação urgente das autoridades competentes para garantir atendimento adequado aos munícipes.
Áudio transcrito na íntegra:
“…Por que não está sendo feito? Eu estou há um ano e dois meses esperando uma consulta. Era algo que eu fazia rotineiramente a cada seis meses – a cada seis meses eu estava lá. Agora parou, virou uma palhaçada. Eu não estou conseguindo mais ter acesso às minhas consultas porque a secretaria travou tudo, está tudo parado.
Eu tive duas internações no mês passado. Só este mês eu fiquei internado duas vezes. Saí na segunda-feira do hospital. Já fiz, de agosto e setembro, cinco internações – cinco internações. Sou cardíaco, tenho marca-passo, não estou bem e nada tem sido resolvido.
Para quem conhece, está aí: papel de Secretaria de Saúde de Santa Rita do Pardo. Eu estou limpando o rabo porque meu papel higiênico eu não uso mais. Meu papel higiênico tem valor, mas papel de secretaria, carimbado pelo médico, assinado pelo médico, que sai de dentro do hospital – mês passado duas ou três internações, esse mês foram duas internações – não tem valor. Então serve para limpar a bunda.
Eu limpei minha bunda com os prontuários que eram para ser encaminhados para procurar em Campo Grande para voltar a fazer meus trabalhos. Um ano e dois meses esperando para fazer uma consulta. O papel extraviou, um monte sumiu.
Este papel da secretaria que vai para a Secretaria de Saúde não tem valor. Meu papel higiênico tem valor porque eu compro em qualquer esquina, boteco, mercearia. Então não uso mais papel higiênico – vou usar prontuário e encaminhamento que vai para a Secretaria de Saúde para limpar a bunda, porque não tem valor.
Vocês me desculpem de ter mandado isso no grupo, mas não tem valor, é para limpar a bunda, para secar e limpar. Vocês me desculpem de ter limpado minha bunda no encaminhamento médico. Não é falta de respeito não, é um sinal de protesto.
Palhaçada para palhaçada – podem me colocar lá dentro, não quero nem salário. Vou lá, bato meu ponto, fico tranquilo fazendo palhaçada para vocês.”
Abaixo as imagens publicadas pelo morador no grupo do whatsapp “Boca Do Povo News”:


A reportagem entrou em contato com a assessoria da prefeitura que enviou os esclarecimentos abaixo:
“A Secretaria Municipal de Saúde Pública vem a público para prestar os devidos esclarecimentos sobre os áudios e manifestações recentes circulando no presente grupo de WhatsApp.
Em primeiro lugar, agradecemos o reconhecimento ao trabalho de nossa unidade hospitalar e de toda a rede de atendimento. É com muita honra que reafirmamos o nosso compromisso com a saúde pública de qualidade para todos os santarritenses.
Com o objetivo de trazer transparência à população, é importante explicar o fluxo de atendimento no SUS:
1. Atendimento Municipal: O Município de Santa Rita do Pardo é pactuado para a execução da Atenção Básica, que é a porta de entrada do sistema. Nossa equipe tem o orgulho de executar este serviço buscando a excelência, dignidade e eficiência, um fato reconhecido não apenas regionalmente, mas em todo o Estado de Mato Grosso do Sul. Todos os pacientes são acolhidos e recebem o atendimento inicial e os encaminhamentos necessários dentro de nossa competência.
2. Encaminhamentos para fora do Município: Procedimentos de média e alta complexidade, como consultas com especialistas e cirurgias que exigem estrutura hospitalar mais complexa, não são de responsabilidade do Município. Esses serviços são de competência do Estado, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A função da Secretaria Municipal de Saúde é acolher o paciente, avaliar sua necessidade e inserir a solicitação de vaga no Sistema Estadual de Regulação
No caso específico em discussão, é importante destacar que:
• O paciente em questão foi devidamente acolhido, atendido e teve todos os seus encaminhamentos inseridos no sistema de regulação estadual.
• A liberação da vaga para sua consulta na Santa Casa de Campo Grande, mesmo sendo um retorno, depende exclusivamente da regulação estadual, que administra a demanda centralizada de todos os 79 municípios de Mato Grosso do Sul.
• Apesar de não sermos o órgão responsável pela liberação, a Secretaria Municipal de Saúde tem atuado de forma proativa para tentar agilizar o processo. Isso inclui a solicitação de atualização constante do quadro clínico junto aos nossos médicos para otimizar o laudo no sistema, além do esforço realizados por mim em interceder junto à Regulação em todas as situações, incluindo a deste paciente
Embora compreendamos a ansiedade e a expectativa de todo cidadão que aguarda por um atendimento de saúde, lamentamos profundamente a forma desrespeitosa e a falta de compostura com que o caso foi exposto publicamente, o que não contribui para um diálogo construtivo.
Reiteramos nosso compromisso inegociável com o atendimento digno e eficiente e sabemos que temos muito a melhorar. A porta da Secretaria e de nossas unidades estará sempre aberta para acolher e esclarecer a população, mas fica o registro firme e definitivo de que o Município não tem competência legal nem capacidade estrutural para liberar vagas de Média e Alta Complexidade, sendo essa uma atribuição exclusiva do Estado via Regulação do SUS.”