Presidente do Supremo admite estar “indeciso” sobre permanência na Corte enquanto EUA intensificam sanções contra ministros

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, revelou estar considerando deixar a Corte permanentemente após entregar a presidência para Edson Fachin na segunda-feira (29). A declaração, feita em entrevista à Folha de S.Paulo, surge em meio à crescente pressão internacional sobre o STF, especialmente após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Admissão de indecisão em momento crítico
Barroso foi direto ao admitir suas dúvidas: “Eu, às vezes, tenho a sensação de já ter cumprido o meu ciclo e, às vezes, tenho a sensação de que ainda poderia fazer mais coisas. Estou pesando todos esses fatores”. O ministro classificou a saída como “uma possibilidade, mas não uma certeza”.
A sinceridade da declaração contrasta com o momento delicado vivido pelo STF, que enfrenta críticas crescentes tanto no cenário nacional quanto internacional. A timing da entrevista, logo após sua última sessão como presidente, sugere que as pressões externas podem estar influenciando mais do que Barroso admite publicamente.
Negativa sobre pressão americana soa defensiva
Embora negue que a pressão dos Estados Unidos esteja influenciando sua decisão, Barroso admitiu ter “preocupação” com a situação, mas afirmou que “isso não tem nada a ver com ficar ou sair do STF”. O ministro disse não ter confirmação sobre cancelamento de visto americano, mas a própria necessidade de abordar o assunto revela o impacto da questão.
A resposta evasiva sobre possíveis sanções bancárias contra ministros do STF também chama atenção. Questionado sobre eventual atuação da Corte para impedir que bancos suspendam contas de ministros sancionados pela Lei Magnitsky – como Alexandre de Moraes -, Barroso preferiu não responder: “Esse problema ainda não se colocou. Então, eu não gostaria de lidar com esse problema em tese”.
Críticas à estratégia de defesa de Bolsonaro
Sobre a condenação de Bolsonaro, Barroso criticou a estratégia adotada pela defesa e aliados, considerando erro a “postura de confronto com o relator e imediatamente discutir a anistia”. O ministro reafirmou que anistia é “competência política do Congresso”, mas considerou “inaceitável cogitar uma anistia antes, durante ou imediatamente após o julgamento”.
Esta posição revela a preocupação do STF com eventual mobilização política para reverter decisões da Corte, especialmente considerando que o Congresso possui maioria conservadora que pode questionar as decisões recentes do tribunal.
Arrependimento sobre prisão de Lula
Em momento de maior vulnerabilidade, Barroso admitiu se arrepender “absolutamente” do voto favorável à prisão de Lula em 2018. O ministro justificou que aplicou “com dor no coração” a jurisprudência vigente, alegando que à época não havia “as suspeições que depois vieram a ser levantadas sobre a Lava Jato”.
Esta admissão é significativa por reconhecer erro de julgamento em caso de extrema relevância política e por validar indiretamente as críticas feitas à operação Lava Jato e ao próprio STF no período.
Negativa sobre embaixadas levanta suspeitas
Barroso negou ter discutido com Lula a possibilidade de assumir alguma embaixada: “Nunca foi aventada a hipótese de eu ir para uma embaixada”. A necessidade de abordar o assunto, contudo, sugere que especulações sobre uma “saída diplomática” para o ministro circulam nos bastidores do poder.
Momento de fragilidade institucional
A entrevista de Barroso revela um STF em momento de fragilidade, com seu presidente admitindo dúvidas sobre permanência na Corte justamente quando o tribunal enfrenta pressões sem precedentes. A combinação de sanções americanas, críticas à condenação de Bolsonaro e reconhecimento de erros passados cria cenário de instabilidade institucional preocupante.
A indefinição de Barroso simboliza as incertezas que rondam o Supremo Tribunal Federal em um dos momentos mais delicados de sua história recente.