Colegiados planejavam reuniões para debater situação do ex-presidente durante recesso

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), impediu que as Comissões de Segurança Pública e de Relações Exteriores realizassem encontros nesta terça-feira (22) destinados a prestar solidariedade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As reuniões estavam programadas para acontecer mesmo durante o período de recesso parlamentar.
A medida foi formalizada através de ato assinado pelo próprio Motta, estabelecendo a proibição de qualquer atividade dos colegiados entre 22 de julho e 1º de agosto do ano corrente. O presidente da Casa fez contatos telefônicos diretos com os dirigentes das comissões de Segurança Pública e de Relações Exteriores solicitando o cancelamento das sessões programadas.
Negociação tentou evitar desgaste político
Durante as conversas com Paulo Bilynskyj (PL-SP), responsável pela Comissão de Segurança Pública, e Filipe Barros (PL-PR), da Defesa Nacional, Motta sugeriu que os próprios parlamentares tomassem a iniciativa do cancelamento, buscando evitar um confronto institucional direto. A articulação envolveu também o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), que participou das tratativas.
Contudo, a estratégia de negociação não prosperou, levando Motta a assumir pessoalmente a responsabilidade pela proibição das atividades dos colegiados. A decisão final partiu diretamente da presidência da Casa, encerrando qualquer possibilidade de realização dos encontros.
Representantes da oposição manifestaram indignação com a mudança de posicionamento, alegando que as sessões já tinham sido acordadas previamente na sexta-feira (18) e que houve inclusive diálogo com Motta sobre o tema. Agora acusam o presidente da Câmara de alterar as regras de forma abrupta.
“Estamos querendo exercer nosso papel parlamentar”, protestou o líder da oposição, Zucco (PL-RS), demonstrando a insatisfação do grupo com a decisão de última hora.
Recesso branco mantém Congresso parado
Tecnicamente, a Câmara não se encontra em recesso oficial, uma vez que seria necessária a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) pelo Congresso Nacional para formalizar o período de descanso parlamentar. Essa situação tem se tornado recorrente nos últimos anos, com a votação da LDO sendo sistematicamente adiada.
Apesar da ausência de recesso formal, tanto Motta quanto Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado, adotaram o chamado “recesso branco”, esvaziando completamente a agenda legislativa federal no período tradicionalmente destinado às férias parlamentares.
Estratégia oposicionista busca alternativas
Parlamentares contrários ao governo Lula deslocaram-se para Brasília durante esta semana, mesmo após o início do recesso na sexta-feira passada, para articular junto ao ex-presidente Jair Bolsonaro respostas às medidas restritivas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O plano original previa solicitar a retomada imediata das atividades legislativas tanto na Câmara quanto no Senado Federal. A estratégia encontrou resistência após Hugo Motta e Davi Alcolumbre optarem por manter o período de duas semanas de interrupção dos trabalhos parlamentares.
Diante do impasse, a oposição elaborou um plano alternativo envolvendo sessões extraordinárias nos dois colegiados e a criação de grupos de trabalho voltados para desenvolver estratégias comunicacionais e organizar atos públicos de protesto.
Para o período pós-recesso, a articulação oposicionista pretende intensificar a pressão institucional. No Senado, a intenção é incluir na pauta o pedido de impeachment contra Moraes; na Câmara, o foco será na aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que elimina o foro privilegiado e na anistia aos detidos pelos eventos de 8 de janeiro.
A decisão de Motta representa um obstáculo significativo para os planos da oposição, forçando uma reorganização das estratégias de apoio ao ex-presidente em momento considerado crítico pelos seus aliados políticos.