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Governo Lula repassa R$ 19 milhões para ONG comandada por petistas

Entidade ligada ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC multiplica recursos em 18 vezes com convênios direcionados

ONG UNISOL Foto: Facebook Unisol
ONG UNISOL Foto: Facebook Unisol

O governo federal firmou pelo menos oito convênios desde 2023 com a ONG Unisol, organização vinculada ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, totalizando R$ 19,1 milhões em repasses públicos. A operação envolveu três ministérios controlados por integrantes do Partido dos Trabalhadores: Trabalho, Direitos Humanos e Desenvolvimento Agrário.

A organização não governamental opera dentro do próprio edifício sindical e possui liderança composta exclusivamente por filiados petistas. Entre os dirigentes destacam-se o presidente Arildo Mota Lopes, ex-diretor sindical, e o vice-presidente Carlos Duarte, que acumula posições de comando em ambas as instituições.

Projetos alinhados com agenda partidária

Uma parcela significativa dos projetos financiados reflete diretamente bandeiras ideológicas do partido governista. Um convênio de R$ 400 mil destina-se à capacitação de militantes para combater supostos “ataques à democracia”, iniciativa bancada por emenda do deputado Vicentinho (PT-SP) junto ao Ministério dos Direitos Humanos.

A justificativa apresentada pela Unisol revela o viés político da ação, propondo reagir ao alegado “desmonte das políticas públicas” posterior ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, episódio denominado pela entidade como “golpe”. O programa será executado virtualmente, visando atingir 300 participantes até 2026.

Outro contrato, no montante de R$ 200 mil, financia a “Feira Esquerda Livre”, evento direcionado exclusivamente para artistas e empreendedores de orientação esquerdista. O recurso foi disponibilizado através de emenda do deputado Nilto Tatto (PT-SP), encontrando-se atualmente em fase de prestação de contas.

Maior repasse concentrado em projeto único

O convênio de maior valor, totalizando R$ 15,8 milhões, foi estabelecido com o Ministério do Trabalho para remoção de resíduos na terra indígena Yanomami, em Roraima. O acordo foi celebrado no final de 2023, com pagamento integral executado apenas três dias após a assinatura, prevendo implementação para o segundo semestre deste ano.

A Unisol declara ocupar um espaço de 40 metros quadrados no subsolo do prédio sindical, alegando que todos os convênios observam parâmetros legais e mantêm-se dentro dos prazos estabelecidos. Conforme comunicado encaminhado ao Estadão, os projetos abrangem capacitação cooperativista, fortalecimento comunitário e geração de renda.

Crescimento exponencial suspeito

O volume de recursos federais destinados à organização experimentou crescimento extraordinário nos últimos anos. Levantamento jornalístico indica que os repasses saltaram de aproximadamente R$ 1 milhão anuais para quase R$ 18 milhões exclusivamente em 2024 – um aumento de 1.800%.

O Ministério dos Direitos Humanos defendeu que a seleção da Unisol seguiu critérios legais e passou por avaliação técnica adequada. O Ministério do Trabalho limitou-se a informar que, em casos de emendas parlamentares, compete à pasta verificar o cumprimento regulamentar e fiscalizar a execução.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC reconheceu que a Unisol originou-se de iniciativa sindical, mas enfatizou a suposta “autonomia administrativa, política e financeira” da organização.

Embora a oposição ainda não tenha se posicionado oficialmente sobre os convênios, aliados governistas defendem as parcerias como forma legítima de fortalecer políticas públicas. Críticos, contudo, identificam evidente favorecimento político e demandam maior fiscalização sobre a aplicação dos recursos públicos.