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Escândalo bilionário no INSS empurra Lupi para a porta de saída do governo

Lula perde a paciência com ministro após fraudes de R$ 6,3 bilhões e já busca substituto enquanto tenta conter danos à sua imagem

Reprodução/Youtube @Lula
Reprodução/Youtube @Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já não esconde mais sua irritação com Carlos Lupi e considera seriamente exonerá-lo do comando do Ministério da Previdência Social. O motivo: o crescente desgaste provocado pelo escândalo dos descontos irregulares nas aposentadorias do INSS, que pode ter desviado impressionantes R$ 6,3 bilhões dos bolsos de aposentados e pensionistas. O que antes parecia apenas um rumor agora ganha contornos de realidade nos corredores do Planalto, onde a permanência do ministro passou de “provável” para “incerta” em questão de dias.

Pessoas próximas ao presidente relatam que Lula tem demonstrado insatisfação crescente com a ineficiência de Lupi na gestão da crise, considerada um dos maiores reveses da atual administração justamente no momento em que o governo tenta desesperadamente recuperar índices de popularidade em queda. O ministro não conseguiu apresentar soluções convincentes nem conter a avalanche de críticas após a deflagração da Operação Sem Desconto pela Polícia Federal, que revelou um esquema gigantesco operando entre 2019 e 2024.

Na última terça-feira (29), em uma tumultuada audiência na Câmara dos Deputados, Lupi tentou se defender com argumentos que evidenciaram ainda mais a falta de coordenação dentro do governo. O ministro criticou o próprio sistema de descontos em folha e sugeriu mudanças radicais no modelo atual. “Não sei ainda como encaminhar isso. É uma opinião pessoal. Vou discutir internamente para ver se é opinião majoritária no governo”, admitiu o ministro, deixando transparecer que nem mesmo ele tem clareza sobre como resolver o problema.

A situação de Lupi se agravou substancialmente quando falhou em apresentar um nome para substituir Alessandro Stefanutto, demitido da presidência do INSS por ordem direta de Lula após o escândalo vir à tona. Em movimento que evidenciou o esvaziamento do ministro, o presidente decidiu pessoalmente indicar Gilberto Waller Júnior para o cargo, contando com aval da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Controladoria-Geral da União (CGU), sem sequer consultar Lupi.

A decisão presidencial de centralizar a nomeação e conceder autonomia ao novo presidente do INSS para implementar reformas estruturais foi interpretada nos bastidores como um claro sinal do enfraquecimento político do ministro, que agora comanda uma pasta esvaziada de poder real.

Até o meio da semana, alguns aliados ainda apostavam em uma “sobrevida política” para Lupi, mas o clima mudou drasticamente nas últimas horas. Interlocutores do Palácio do Planalto afirmam que sua exoneração já é discutida como uma necessidade política para tentar conter o desgaste à imagem do governo, mesmo sem provas de envolvimento direto do ministro nas irregularidades investigadas.

O caso ganhou contornos ainda mais graves quando ficou evidente que o governo só agiu depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) cobrou providências e após a explosão da repercussão negativa na mídia. As medidas emergenciais mencionadas por Lupi — como auditorias internas e a exigência de biometria para autorização de descontos — foram vistas como tardias e insuficientes para um esquema que operou por anos sob o nariz da Previdência.

Para piorar a situação do ministro, aliados de Lula não hesitam em lembrar que Lupi sequer era a primeira opção do presidente para o cargo. O nome originalmente favorito era o de Wolney Queiroz, atual secretário-executivo da pasta, o que fragiliza ainda mais sua posição no jogo político interno.

Em uma tentativa desesperada de controle de danos, o governo tem se esforçado para destacar que a investigação partiu de iniciativa da própria administração Lula, com atuação conjunta da CGU e da Polícia Federal. Contudo, esse discurso contrasta fortemente com a lentidão e a desorganização das respostas apresentadas até agora, expondo fraturas na gestão petista em um momento particularmente delicado para a imagem presidencial.