
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual (p.p.) na reunião desta semana, consolidando a taxa básica de juros em 14,25%. Além disso, o Banco Central deve indicar a necessidade de novos ajustes para conter a inflação persistente. A decisão será anunciada após as reuniões de terça (18) e quarta-feira (19).
A projeção da XP Investimentos, baseada na análise do economista-chefe Caio Megale e sua equipe, destaca que, mesmo com sinais de desaceleração econômica, a inflação segue acima da meta estipulada. Segundo o boletim Focus, a taxa de juros pode atingir 15% sem que isso seja suficiente para reverter o cenário inflacionário. Nesse contexto, interromper o ciclo de alta da Selic com a taxa em 14,25% seria uma decisão incoerente. “Não resolve o problema”, afirmam os especialistas.
Vale ressaltar que, nos últimos anos, o PT e o presidente Lula criticavam a condução da política monetária, atribuindo a responsabilidade dos juros elevados a Roberto Campos Neto, então presidente do Banco Central. Parlamentares petistas atacavam Campos Neto sob o argumento de que a taxa Selic estava sendo mantida artificialmente alta para prejudicar o governo. No entanto, desde que Lula passou a indicar a maioria dos integrantes do Copom, os juros continuam subindo, e tanto o presidente quanto seus aliados se mantêm em silêncio.
A sinalização do Banco Central deve destacar que os próximos passos dependerão do comportamento dos indicadores econômicos. Dados recentes apontam que a atividade econômica apresentou resultados abaixo das expectativas, o que pode influenciar as próximas decisões. “Esta será uma mudança importante (e dovish) em relação ao comunicado de janeiro”, avaliam os economistas da XP.
Já no cenário internacional, a instituição deve continuar descrevendo o ambiente global como “desafiador”, o que reforça a necessidade de cautela na política monetária. A XP projeta que os juros alcancem 15,50% em junho, com novas elevações de 1 p.p., 0,75 p.p. e 0,50 p.p. nas próximas reuniões. Caso o câmbio se estabilize e a desaceleração econômica se intensifique, o último ajuste pode ocorrer já em maio.
Para 2026, há expectativa de alguma flexibilização, com a taxa básica de juros podendo encerrar o ano em 12,50%. No entanto, essa projeção depende de fatores como a evolução da inflação e a condução da política fiscal do governo Lula.
Inflação descontrolada força novo aperto monetário
Desde a última reunião do Copom, os dados econômicos apresentaram um quadro ligeiramente mais positivo para a inflação. No entanto, os resultados do PIB do quarto trimestre de 2024 e os indicadores de janeiro apontam para uma desaceleração econômica. O real se valorizou cerca de 8% no acumulado do ano, oscilando entre R$ 5,70 e R$ 5,80 por dólar. Apesar disso, os índices de preços ao consumidor e ao produtor seguem pressionados. O IPCA de fevereiro indica uma inflação anualizada entre 5,5% e 6%, superando as metas do Banco Central.
Além disso, o governo federal discute medidas expansionistas que podem comprometer ainda mais o equilíbrio fiscal e alimentar a inflação. Entre elas, estão a liberação de recursos do FGTS, a ampliação do crédito consignado ao setor privado e a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$ 5 mil mensais. Essas ações tendem a aumentar o consumo e a pressão inflacionária, exigindo um aperto monetário ainda mais severo.
No cenário externo, a queda nos juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos reduziu a chance de novos aumentos na taxa de juros do Federal Reserve a curto prazo. Contudo, as incertezas na política econômica global mantêm um ambiente desafiador para o Brasil. “Os dados recentes não devem alterar substancialmente a perspectiva de inflação do Copom, embora possam ter reduzido um pouco os riscos de alta”, concluem os especialistas.